sábado, 22 de abril de 2017

Paradoxo pós-modernista





Toda a configuração do rito pós-modernista, com suas percepções estéticas na literatura, na arquitetura e nas artes plásticas, segue um padrão estritamente comercial sem quaisquer vínculos com os ideais iluministas criados no século XVIII.

Acredito, e não há dúvida nisto, que esse foi um dos períodos mais interessantes da humanidade. Essa época se torna o principal vetor de processos estritamente racionalistas (na matemática, na filosofia e na ciência), que definitivamente ampliaram a nossa visão de mundo.

Passados dois séculos após Voltaire (1694-1778) escrever “Cândido, ou O Otimismo”, que eu li quando tinha dezesseis anos de idade, a sensação que tenho é que estamos presos numa grande rede de anomalias projetada por uma “indústria cultural”, completamente instrumentalizada para satisfazer a massa com pequenas futilidades tecnológicas, religiosas, artísticas, econômicas, midiáticas e políticas. Muito óbvio, não? Sim! Bastante...  

Assistimos o declínio de grandes potências mentais transformadoras. Definitivamente o mundo ficou muito pequeno. No momento temos uma poderosa máquina burocrática disposta a anular valores humanos, ambientais e culturais, semelhante as que eram usadas antes do iluminismo. A idade média, com suas justificativas cristãs ao eliminar o inimigo de Cristo, gerou uma estúpida carnificina e deu brechas para o surgimento de muitas doenças e preconceitos. Nada mais que isto! Eis a origem dos nossos problemas.

Se retornarmos ao século XIX, quando houve uma independência do sujeito, uma autonomia capitalista do seu uso, havia ali, naquele momento histórico, o início de forças produtivas voltadas para um crescimento contínuo e racional. Aí entra o século XX, e tudo começa a dar errado quando surge a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Uma dívida que ainda assombrará a vida de muitas gerações futuras.

Voltando ao tema sobre o paradoxo pós-modernista, poderemos encontrar em Jean Baudrillard (1929-2007), Jacques Derrida (1930-2004), Michel Foucault (1926-1984), Luce Irigaray, 86, e Jean-François Lyotard (1924-1998) referências bibliográficas interessantes que dão substâncias e nos leva a refletir sobre a significação do termo pós-moderno e sua real exatidão conceitual.

No magnífico ensaio “A condição pós-moderna”, Lyotard apresenta uma teoria que destaca o colapso das grandes narrativas (incluindo aí o marxismo) e sua substituição pelas pequenas narrativas, dando espaço para a tecnologia que nos últimos anos transformaram nossas ideias sobre o que constitui o conhecimento. A pergunta que faço é: “Será um poder concentrado ou distribuído para toda a sociedade?”

Para que as coisas possam funcionar, tudo dependerá das mentes que estarão por trás desse novo complexo tecnológico. Mesmo com todas as novidades do mundo contemporâneo, com suas projeções científicas, ainda tenho muitas dúvidas sobre a sua eficácia ontológica. Creio que o monopólio continuará, com o seu círculo viciante, a dar suas cartas neste cenário global.

Mas encontro nas teorias de Adorno (1903-1969), principalmente no livro “A dialética do esclarecimento”, referências para fazer analogias históricas sobre a nossa condição humana e refletir sobre o valor da cultura como antítese, contra os modelos maximizados construídos pela indústria do cinema, pela internet e pela propaganda.

No presente, o conhecimento ainda se fecha em falsos mecanismos de domínio administrados por “especialistas”, que estão muito aquém na construção de uma civilização grandiosa. Do contrário, poderíamos estar aptos a seguir em frente, de questionar, de melhorar nosso campo mental em estruturas mais ativas e perenes.

Vejo que a única opção sustentável é fortalecer a educação e democratizar a informação científica, tendo como referência muitas situações interessantes ocorridas no passado, com suas mentes geniais. Friso que não podemos deixar a história em segundo plano. Ela é tão importante como as dinâmicas das novas descobertas nos campos da biologia, da química, da física e da matemática.



Pós-pandemia: um futuro de humanos/máquinas

  Francis Bacon.  Figura com carne O  início desta década de 20 está marcado pela complexidade da dissensão ontológica. Isto é bom ou ruim?...