sexta-feira, 13 de setembro de 2019

A ignorância vendida por Olavo de Carvalho







A soberba doentia de Olavo de Carvalho é um fato. Vejo nela a expressão da ruína de um século menor, sem a exatidão e leveza apresentada pelo cubano Ítalo Calvino, no seu livro "Seis Propostas para o Próximo Milênio".
Para ser sincero, eu sinto falta das relevantes opiniões do argentino Jorge Luís Borges que, além de ter construído uma obra fenomenal, tinha uma lista de citações de mentalidades poderosas que ainda colaboram na evolução de nossa espécie.
No campo das discussões Olavo de Carvalho tem intervenções medíocres. As suas citações bibliográficas, a sua falácia mentirosa e, principalmente, a sua idiotice política são resultados de uma completa cegueira sobre a nossa condição humana na Terra, assunto bem explicado pelo alemão Thomas Mann, no livro Montanha Mágica.
O falso filósofo foi absorvido por uma turma mentalmente infantil; são órfãos de uma nação fragmentada. Eu prefiro a dialética dos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana que, sem nenhuma dúvida, são intelectualmente consistentes. Olavo usa jargões esquisitos e, acima de tudo, erra nas suas formulações.
Os estudos, as rasas pesquisas, apresentadas por ele provocam enganos históricos e filosóficos. Se estivesse vivo, o alexandrino Eric Hobsbawm teria crises de desespero ao ver as manifestações desse desbocado Chacrinha de uma pós modernidade aflita.
O que diria Umberto Eco, se também estivesse entre nós? Talvez o "ilustre" enganador brasileiro, serviria de objeto de estudos semióticos para o professor italiano.
E o que pensaria o escritor brasileiro Moacir Scliar ao ver as inutilidades e prepotência de um demente corpo em decomposição? Decerto Scliar, o mestre das histórias curtas, criaria uma narrativa sobre os tormentos de um homem repleto de afetações mentais, principalmente quando o assunto é sexo.
É visível como o corpo de Olavo se contorce e a sua voz fica trêmula quando tenta esmiuçar sobre o tema da sexualidade. Será que o "ávido" ideólogo do atual governo, não leu o francês Marquês de Sade, o inglês D.H Lawrence, o japonês Yukio Michima ou o anjo pornográfico Nelson Rodrigues? Se tivesse lido não cometeria falhas nas suas reflexões sexuais.
Enfim, no quesito sexologia, Carvalho decepciona. No mais, sinto que esse senhor se transformará numa das maiores figuras folclóricas do Brasil. O americano William Burroughs deve está rindo desse louco, desse jagunço de palavras vazias, surreais, que tem a insanidade de dizer que Theodor Adorno produziu as letras dos Beatles.
Qualquer dia, o sem noção da cultura pop, vai afirmar que quem escreveu as canções de Oasis e do The Verve foi o escritor americano Philip Roth.
Outro erro feio do velho bruxo é quando ele cita a Escola de Frankfurt, como sendo um centro de diabólicos movimentos criados por uma dialética negativa (sic) que gira em torno das ideias de Adorno, contra tudo e contra todos.
O velho bruxo, o rasputin brasileiro, deveria saber que na Escola de Frankfurt, o alemão Jurgen Habermas desconstruiu a Dialética do esclarecimento de Adorno.
Influenciado pelo austríaco matemático e filósofo Ludwig Wittgenstein e Karl-Otto Apel, Habermas cria a base de novos projetos sócio-políticos de emancipação. Abre espaço para novas discussões sobre diversos temas das humanidades. E Carvalho parece desconhecer este fato.
Aliás, Olavo no seu íntimo sabe que as suas análises não levarão seus discípulos a lugar nenhum na superfície terrestre e, sim, valendo-se de um raciocínio metafísico, provocará um deslocamento de todos eles para os círculos infernais descritos por Dante Alighieri, na sua magistral Divina Comédia, onde reina a ignorância.
No fundo, Carvalho compreende que comete auto engano constante, mas seu desajuste mental lhe dá forças para prosseguir, como se fosse o baluarte da justiça e da verdade. Carvalho é a síntese, um exemplo, de um "projeto" civilizatório que deu errado.
Ele, certamente, seria um personagem coadjuvante da obra de Robert Musil. Um falastrão, sem conteúdo autêntico, como diria Arthur Shopenhauer.
As suas repetições teóricas, embasadas em processos conspiratórios, podem ser bem analisadas na obra de Gilles Deleuze, no seu livro Diferença e Repetição. Suas exposições de ideias no cotidiano se repetem, e parecem se ajustar a um estudo profundo de substratos do pensamento analítico.
Obviamente, Carvalho faz uso de uma retórica de persuasão. E como no Brasil o rito de passagem é uma anomalia cultural, pela ausência de uma educação profunda, o falso filósofo faz uso dessa deficiência para formatar dialéticas sem sustentação real.

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