Mini conto escrito por Luiz Penna
Ela abre o jornal e lê o horóscopo do dia. “Nada… Como sempre os mesmos truques de linguagem”, pensa. O dia está bonito. Abre os braços e espreguiça com vontade todo o seu corpo. Mas por dentro sente o desejo de desaparecer, de se transformar, de deixar de ouvir as traumáticas vozes assustadas do mundo.
Uma borboleta dança assimetricamente próxima a sua cabeça. Ela brinca, ri, começa a cantar uma canção que aprendeu com a sua avó. O telefone toca. Era uma amiga convidando para uma xícara de chá. “Hoje não posso. Estou aqui num exercício abstrato de não ser alguém, parar de rolar pela existência ao acaso. Quero esvair no espaço como uma fumaça”, diz com uma voz doce e calma enquanto observa uma formiga subindo no dedão do seu pé direito.