segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Quid sir deus e outras questões


 
 
 
Quid sir deus. Afinal o que é Deus? Uma pergunta que definitivamente não tem solução. Mesmo que teólogos arquitetem fórmulas de uma existência divina ou mecanismos enigmáticos sobre a presença de um ser onipotente, com comando na estrutura cósmica, ainda estamos muito aquém da possibilidade de sabermos exatamente, em uma máxima compreensão intelectual, alguma verdade sobre esse assunto.

Por vários séculos esse processo tecnicista foi milimetricamente pensado dentro de um modelo cartesiano, se estabelecendo como controlador das sensações humanas. Assim, foram se formando fragmentos civilizatórios, impulsionados por um fundamentalismo cristão que se ampara em belos efeitos estéticos na sua linguagem mitológica e, que, obviamente se tornou um simulacro comercial, até mesmo no campo das ciências exatas.

O que mais assusta é como o poder político e econômico se apropriou disso na corrente do tempo, formatando um domínio vertical na sua lógica de controle. Lembremos: o mundo Ocidental destruiu grande parte da cultura Oriental. Produziu guerras, massacrou famílias tradicionais e queimou bibliotecas para deter, com força, o acúmulo milenar de um rico conhecimento muito superior aos dos cristãos. Nesta perversa carnificina a humanidade foi se adaptando aos enredos impostos. E, sobretudo, mentindo para si mesma sobre o que realmente importa para as suas vidas.

No meio desta curvatura histórica encontramos a filosofia que gerou a ciência de como se pensar a política. Só que até agora, passando pela revolução francesa, americana, inglesa e outras tantas que ocorreram por aí, não conseguimos articular um regime que satisfaça o homem por completo. Por que será? Falta algo para incrementar essa inteligência movida pelas negociações de grupos?

Em dado momento da história Platão disse que o político deveria ser versado em poesia, matemática e em metafísica para atuar como legitimo representante do povo; na outra arena, Aristóteles acreditava que para ser político o homem necessitava de habilidades práticas. Bem... Os anos se passaram e ambos podem ter errado... Porque até agora, não conseguimos decifrar qual o valor exato da veracidade de um N’est pás? (Quem é um estadista?). Uma questão para a próxima reflexão.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Somos idiotas?

 
Obra de Iberê Camargo – A Idiota
 
 Vivemos em uma “nova” ordem mundial? A resposta é simples: Não!!! Sem uma perspectiva de inovações humanas nos destruímos todos os dias. Se tivéssemos dado mais atenção ao processo darwinista, talvez a humanidade não estivesse tão embrutecida. O desleixo de cair nas armadilhas da ideologia cristã causou estragos na nossa evolução.

Pois bem, voltando à análise sobre essa "nova" ordem mundial que se apresenta nessa rebuscada realidade, o que posso dizer é que ela é extremamente careta, estranha e sem conteúdo. No Brasil, por exemplo, assistimos a estagnação histórica da política. Os fatos são danosos. Estruturas corruptas anulam o seu crescimento.

A ausência de instituições sérias coloca em risco a nossa liberdade de desenvolvimento coletivo. Com isso ficamos entregues as barbáries de uma hipocrisia insana. Por outro lado, temos a perniciosa falta de uma discussão intelectual sobre o que acontece por aqui. É bom que se diga que a dita classe pensante não existe. A maioria é conivente com o que acontece.

É um drama! Peculiar a nossa estúpida e mesquinha cultura. O aniquilamento de um raciocínio mais amplo criou um ridículo cenário. O estado perdeu sua capacidade de gerir com mais responsabilidade seus recursos econômicos. E seus ideólogos acreditam que são gramscianos. O que diria Paolo Pasolini desse quadro?

Em outra via temos a desmontagem de serviços essenciais ao ser humano. Um deles o acesso à água. Vários rios estão doentes e as matas fragmentadas. E olha que isso já tinha sido comentado no período colonial pelo cientista José Bonifácio Andrada e Silva. Mas como não houve metas logísticas de crescimento pagamos por um preço alto.

Terminamos, por fim, o ano de 2014. Nova equipe econômica, novos nomes para compor os ministérios... E daí. Quais serão os resultados? Com as recentes denúncias sobre o esquema da Petrobrás veremos que o caldo vai engrossar ainda mais. Saudades de uma era repleta de ideias revigorantes apresentadas por Habermas, Marcuse, Rawls e tantos outros que enriqueceram um século que ficou apenas em lembranças.
                       

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Perda da racionalidade


 
Estamos nos aproximando de 2015. A sensação que eu tenho é que o mundo não passará por grandes transformações. Tudo estará focado, mais uma vez, em agendas conservadoras e excludentes. Não é novidade para ninguém que vivemos enclausurados em novas fórmulas autoritárias de domínio. Recuamos a invés de avançarmos.

No Brasil, por exemplo, o governo paga caro para adquirir o know-how bélico e estratégico de Israel. O país investe em pesquisa militar e na compra de modelos de segurança, mas não resolve o problema de saneamento básico e do meio ambiente. A perversidade econômica, com suas práticas liberais, estrangula qualquer mudança com viés humanista.

Sabe-se que os países, detentores do poder geopolítico, não fazem mais guerras convencionais. Isso não dá mais voto! O que está em jogo é a eficiência para eliminar os inimigos silenciosamente, ou seja, por vias tecnológicas e por estruturas prisionais sofisticadas construídas em áreas distantes do olhar da sociedade.

O maior problema de tudo isso é que todos mentem. A conivência existe em todos os planos da sociedade. Alastra-se como vírus, eliminando valores e identidades culturais. Apesar dos arranjos performáticos pensados pela mídia, para ganhar bônus em visibilidade, tudo está pulverizado em enredos virtuais. O real perde sua dinâmica em um mundo rarefeito.

Todos os discursos são baseados em linhas milimetricamente articulados para enganar o cidadão comum. Na esfera das decisões o que se vê na prática é uma engenharia montada para servir canibais mercantilistas, especuladores de uma ordem econômica destrutiva, com aval de países que comungam com os interesses dos Estados Unidos.

Uma engenharia colaborativa feita para governos ditos oficiais e paralelos. Assim assistimos, paralisados em nossas dimensões fechadas, a destruição do planeta. E os cientistas? Bem, esses continuam a comer na mão dos piratas do capital. A maioria das pesquisas é feitas, única e exclusivamente, a favor de um sistema de comando. Já o sistema dos seres vivos... Não parece ser uma prioridade racional.

domingo, 16 de novembro de 2014

Virada de página

                                       
Imagem de Oswaldo Goeldi 

 O capitalismo está em desconstrução? Estamos às portas de um longo espectro autoritário global? Uma pequena parcela da humanidade continuará a comandar os processos econômicos no mundo? Bem... São questões que nos fazem pensar se a representatividade governamental tem algum valor neste estranho cenário.

Na opinião do sociólogo alemão Wolfgang Streeck, diretor do Instituto Max Planck para o Estudo das Sociedades, vivemos em um grande dilema se o capitalismo terá o seu fim ou se manterá como está, aberto para as alucinantes ideias de uma conjuntura neoliberal?

“Mais do que em qualquer momento desde o fim da Segunda Guerra Mundial, há hoje em dia um sentimento generalizado de que o capitalismo está em estado crítico”, escreveu Streeck para a revista New Left Review, artigo também publicado pela revista Piauí.

Neste emaranhado e perverso enredo, o que podemos esperar desses modelos tecnocráticos? Creio que nada!!! Numa linha Nietzschiana de que deus está morto, também sinto que definitivamente todas as ideologias foram enterradas. Para sempre!!!

Sem luz no fundo do túnel? Não serei tão pessimista. O que eu disse até agora é que os modelos acima apresentados se encerram por absoluta falta de consistência. No momento prefiro o raciocínio do professor de Sociologia na Sorbonne, Michel Maffesoli, diretor do Centro de Estudos sobre o Imaginário. “Nossa época vive uma mudança de paradigma, de mudança de sistema de valores”, disse ele em entrevista ao jornal O Globo, dia 8/11.

Com a chegada do Natal e Final de Ano há uma total preguiça para se praticar qualquer mudança. Somente em 2015, depois do Carnaval, vivenciaremos as insatisfações populares brotarem vivas pelas redes sociais e pelas ruas. Veremos o que irá acontecer... Mas no geral, tudo não passa de esboços programados por setores políticos. Simulacros de ações criados com falsas ideias de resistência. Sinto falta da releitura de Michel Foucault.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Somos frágeis

 

 




Existe algum segredo guardado a sete chaves por traz da existência? Creio que não!!! Não há sobrenatural, fantasmas, espíritos, deuses, anjos, inferno, céu ou outras idiossincrasias criadas pelo homem que esclareça a funcionalidade real da existência. Tudo não passa de estruturas imaginárias que se alimentam de carências afetivas, de fragilidades mentais e de distorções conceituais.

O que temos é um cenário que, na sua vasta extensão cósmica, segue frenético e inatingível nos seus múltiplos efeitos estéticos, sem prestar muita atenção no precário mundo humano e nas suas insuficiências de linguagem como diria Wittgenstein. Não somos capazes de influir em qualquer mudança. Estamos presos e acorrentados em um sistema sensorial danificado e corruptível. Tanto no emocional quanto nas relações coletivas o que presenciamos são alucinações conflitantes, aberrações surgidas da incapacidade de construirmos uma civilização autêntica.

O formato que temos é medíocre. O modelo científico e educacional é uma farsa. Os países considerados como potências econômicas impõem com rigor militar o funcionamento do planeta. As questões de soberania nacional não existem. O que temos são representações de comandos bélicos dominantes voltados para interesses nada poéticos. O romantismo de uma esquerda surgida entres os séculos 19 e 20 fracassaram.

No momento vivenciamos o surgimento de uma delicada operação dos donos do império que definem como muita precisão o controle dos recursos naturais. São empresas transnacionais que atuam longe dos holofotes da mídia e usam as estruturas governamentais e não governamentais para esboçarem os seus arranjos. Perverso? Claro que sim!

Enquanto isto flui em ritmo galopante pelos quatro quantos do planeta, assistimos indefesos grandes corporações adquirindo o controle da água no Brasil. Constituição? Poder Judiciário? Congresso Nacional? Mídia convencional? Servem para quê? Para nada!! É uma ficção acharmos que estamos amparados pela lei e por vozes do além. Falta-nos o equilíbrio de compreendermos qual é a importância do conhecimento estético em nossas vidas. Digamos... Um pensamento mais profundo ensinado por Maurice Merleau-Ponty, sobre o sentido da observação. Bem, aí é uma outra história.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

As singularidas de Gabriella Andrada


 
 
Quem conheceu Maria Gabriella de Andrada Serpa (1919-2014) sabe exatamente qual foi a dimensão humana dessa escritora, memorialista e ambientalista, que durante muitos anos deu vigor estético na preservação de uma das áreas mais importantes de Minas Gerais, que é a Fazenda da Borda do Campo, no município de Antonio Carlos.

Suas atitudes e ideias marcaram várias gerações e, certamente, continuarão a ser referência para as próximas. Espírito lúcido, mentalmente suave e honesto com os valores de uma coexistência gentil, essa mulher se tornou um exemplo de transparência, na mais profunda concepção do termo.

Viveu os seus 95 anos de bem com o mundo e sabia decifrar como ninguém os conceitos chaves que regem a humanidade. O seu conhecimento era profundo. Distinguia com excelentes análises todas as representações ideológicas com sabedoria, e, ao mesmo tempo, praticava uma dialética que estabelecia um contraponto bem articulado e preciso sobre determinada questão. Seu raciocínio era rápido e eficaz. Afinal, ela conviveu ao lado de grandes mentalidades.

Possuía uma visão crítica dos jargões linguísticos e dos seus excessos caricaturais, confrontando-os com um pensamento estruturado em dinâmicas que seguiam o rigor da pesquisa histórica e sociológica, de uma maneira bastante didática. Aliás, a maior parte de sua vida, Gabriella Andrada esteve envolvida com os assuntos relacionados à educação.

Fez graduação em Letras em uma época que o acesso feminino ao ensino superior era raro. Ela teve a oportunidade de ser uma autêntica observadora de muitos acontecimentos, que surgiam frenéticos ao longo do século 20. Presenciou o desabrochar da ciência, o desenvolvimento efervescente da arte moderna e, principalmente, teve a oportunidade de ver de perto fatos curiosos da política nacional.

Assídua leitora dos clássicos da literatura e da filosofia, mesmo tendo influência cosmopolita, não abriu mão das suas origens interioranas e da holística do catolicismo barroco, preferindo se guardar de corpo e alma no lugar que serviu de base para a construção de sua personalidade e a presenteou com novas singularidades, que é a Fazenda da Borda do Campo. Foi neste cenário, localizado no alto da Serra da Mantiqueira, entre os sons encantadores dos pássaros, dos movimentos sutis do vento e de uma extensa biodiversidade na sua fauna e flora, que Gabriela passava o seus dias escrevendo e refletindo.

Eu tive a oportunidade de entrevistá-la quatro vezes. O primeiro encontro ocorreu na primavera de 2001. Foi em uma tarde em que a luminosidade criava uma atmosfera impressionante; e, graças ao ecossistema que cerca todo aquele espaço, foi um dia extremamente revigorante. Falamos de culinária mineira, de presidencialismo, de parlamentarismo, de monarquismo e, sobretudo, de literatura.

Naquela época, a sua irmã Narcisa Andrada estava entre nós. As duas eram inseparáveis e cuidavam como muito zelo na preservação do patrimônio arquitetônico e ambiental da Borda do Campo. Depois me encontrei com Gabriella Andrada em 2002, 2008 e 2009. Todas as entrevistas foram marcantes, pois me deram a chave para compreender como se deu a formação humana e cultural na região, a partir da fundação da Borda do Campo.

Na última entrevista, a memorialista me recebeu em seu escritório. Sentada em sua escrivaninha que pertenceu a Pedro Nava, um presente de sua prima que era casada com o escritor mineiro, ela me contou detalhes sobre os livros que há na fazenda, a origem das pinturas expostas nas paredes, o dia a dia na cozinha, a vida entre a família e muitos outros assuntos interessantes.

O que eu achava bacana é que Gabriella Andrada me escrevia constantemente. Sempre muito cordial e atenta aos temas contemporâneos, sugeria matérias para serem publicadas no Jornal Correio da Serra. Assim como muitas outras pessoas, sentirei saudades de sua presença que nos contagiava com o seu entusiasmo e afeição. Em tempo, também sentirei falta dos livros que ela me presenteava.www.cenadois.blogspot.com

Pós-pandemia: um futuro de humanos/máquinas

  Francis Bacon.  Figura com carne O  início desta década de 20 está marcado pela complexidade da dissensão ontológica. Isto é bom ou ruim?...