sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

A servidão de Sérgio Moro



Quando eu estudava direito não perdia tempo com falsos gurus doutrinadores e procurava os melhores. Um deles foi Thomas Nagel, professor de filosofia e direito da Universidade de Nova Iorque, que tem um trabalho consistente nos campos da filosofia da mente, filosofia política e ética.
Debrucei-me na sua obra e abri caminhos para refletir sobre a função do judiciário, em uma realidade destroçada por forças antagônicas ao progresso da civilização e, assim, como Nagel, conclui que não chegamos a lugar nenhum, e nos tornamos escravos de simulacros embutidos como verdades supremas. Em todas às áreas do conhecimento humano.
Os séculos se passam e continuamos presos nas metáforas do mito da caverna, criadas por Platão. Ignorantes sobre as representatividades do “mundo real”, nos tornamos reféns de sinistras forças ocultas, que ultrapassam as simbologias criadas por herméticos sistemas de comunicação.
A todo instante vemos, ouvimos e lemos apenas representações de sombras, de ruídos que se expressam através de jornais, rádios, TVs, revistas, blogs e sites de notícias. São sombras que formam um “corpo”, uma “ideia”, um “valor”, e constroem um universo humano de elementos normativos, que ordenam a sociedade e manipulam novos costumes.
E uma dessas sombras que me chama a atenção é o ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro. Doutor em direito, ator principal da derrocada de Luiz Inácio Lula da Silva e de muitos figurões da política nacional, o ex-juiz federal condutor da operação Lava Jato, considerada “exemplar”, pelo apuro técnico que colocou na cadeia muita gente miúda, assumiu um cargo importante num governo que traz o mesmo DNA da corrupção turma que ele sentenciou.
De peso pesado passou a médio, ao que tudo indica, sua escalada política não será grandes coisas e passará a peso leve. Antes tivesse se mantido no cargo de juiz. Talvez essa representatividade o tornaria real, e não uma sombra, uma falsa simbologia do certo e errado, submetendo-o a servir a um grupo político fraco em projetos consistentes.
O pacote anticrime apresentado por Sérgio Moro, na lógica dos acontecimentos, não desconstruíra a influência do crime organizado internacional, que tem braço forte dentro do território brasileiro, com vários tentáculos na economia local, porque não existe uma discussão mais séria para eliminar a exclusão social.
Pelo contrário, o super ministro vai alimentar a dinastia do submundo, que possui um exército de jovens serviçais, em todas as instâncias da sociedade, principalmente da classe média, de onde surge a hierarquia maior de comando, dado a facilidade do acesso com políticos, juízes, empresários e gente de todas as bandas.
Um governo sem projeto nas áreas da educação, da cultura, da saúde, da ciência e do meio ambiente, não tem condições de prosperar, pois o problema do país continua sendo a ausência de investimento no capital humano. Mudar a realidade é mudar o foco de atuação. É preciso inverter os valores, ampliar os debates das verdadeiras demandas da sociedade.
E creio que Sérgio Moro está longe disso. Seus parâmetros de discussão passam distantes das teses bem elaboradas do pensador Norberto Bobbio, que via no direito um instrumento de transformação social, a partir da valorização de uma ética comprometida com o bem estar da população. Fora isso, só aparecerão falsos simulacros.

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