sexta-feira, 18 de novembro de 2016

3% é pura bizarrice





Eu vi o trailer 3%, nova série da Netflix, produzida no Brasil. Pelo que notei, a climatização futurista pós apocalíptica, lembra (na sua falta de conteúdo) a novela "Malhação", da Rede Globo. Sem noção.
Aldous Huxley, no seu Admirável Mundo Novo, é mais interessante e profundo; ou Daniel Quinn, com as suas obras Além da Civilização e Ismael.
Há também a valiosa literatura ficcional de William Gibson, Neuromancer; e Haruki Murakami, 1Q84; as belas reflexões de Slavoj Zizek no seu livro, Vivendo no Fim dos Tempos; e os textos de Umberto Eco, de Jean-Claude Carrière, Jean Delumeau ou Stephen Jay Gould (no livro Entrevistas sobre o fim dos tempos).
Grandes mentes brasileiras, como a do filósofo Bento Prado Junior, já dizia: "Não precisamos da metafísica de vocês (européia ou norte americana), pois já temos a nossa".
Os roteiristas do 3% desenvolvem um raciocínio enfadonho, lateral, de uma questão que poderia ser mais trabalhada, e preguiçosamente fazem uma cópia dos clichês hollywoodianos, esquecendo da nossa própria metafísica ameríndia e o que ela poderia contribuir na construção da narrativa.
Outros brasileiros como Eduardo Viveiros de Castro e Fernando Fernandes, que apresentam uma obra densa e extremamente interessante sobre questões antropológicas e biológicas, mostram com potencial inteligência, outras questões que são necessárias para compreendermos determinados assuntos ambientais, que poderiam servir de referência para um público viciado em cultura Pop, que faz da televisão um meio para adquirir conhecimento.
Tudo isso passa distante do tema apresentado pelos produtores do 3%, que parecem ter a presunção, a concepção conceitual, de apresentar algo novo. Só mentem.
A série é falha, superficial, e extremante mecanicista na elaboração de uma ficção científica extremamente melodramática. Faltou um olhar nas belas teorias de Niels Bohr e Charles Darwin.
3% é pura bizarrice.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Uma história sem fim


Flash-back: O que Luiz inácio Lula da Silva e o seu fiel escudeiro sandumonense Luiz Dulci faziam em julho de 2005? Eles, de fato, estavam arquitetando projetos significativos para o Brasil?
Recentemente, em seu artigo "Voto Consciente", censurado pelo jornal Zero Hora, Olavo de Carvalho descreve, com precisão, o que os dois "mocinhos" faziam nesta ocasião.
Dulci e Lula, que são mestres para fazerem cara de paisagem, se reuniam com representantes do MIR no XXII Encontro do Foro de São Paulo, na Fundação Perseu Abramo, com uma conversa que passa longe de uma ampla coalizão democrática. Não estavam ali para articularem novas dinâmicas regionais. Pelo contrário.
Assim como o seu orientador intelectual, de falas machadianas, o ex-presidente se aproveitou das facilidades do dinheiro público, para se reunir com grupos políticos, cujas pretensões ideológicas estão distantes de uma sociedade comprometida com o estado de direito. Em outras palavras, eles se preocupavam em formalizar estratagemas geopolíticos autoritários.
E tem mais. O texto surpreende ao apresentar o lado B dessa história, pouco contada pela mídia convencional, ao lançar algumas questões umbertianas, como esta: "A realidade se transformou num reflexo de jogos semióticos sem sentido?".
Carvalho diz que o filho de Lula, Fábio Luís Lula da Silva, terá um excepcional controle cibernético no Brasil através do software “Narus Insight Discover Suite”, que tem capacidade para ler nossos e-mails, vasculhar nossas contas bancárias e ouvir nossas conversas no Skype. A fonte dessa brincadeirinha está nos EUA.
Você, por acaso, saberia me dizer quem foi o emissário diplomático (ministro de Lula naquele período) a realizar tal proeza junto a essa nova gangue planetária? A chamada gangue das telecomunicações, que já começar a colocar em prática novos projetos de empreendedorismo estatal, com apoio de figurões do mundo privado. Diga-se de passagem, invisíveis.
Essa minha conversa está quase idêntica a literatura dos heróis criados por Stan Lee. Outra pergunta, alguém poderia me passar os nomes dos conselheiros da super poderosa farmacêutica e química Bayer? Essa empresa patrocinou, com dinheiro, a campanha que ajudou a nomear Adolf Hitler chanceler.
Se tiverem os nomes deles me avise. Ficção? Você acha? Veja quem, no presente, está sentado em umas das cadeiras do conselho da concessionária de serviços de telecomunicações OI? Essa turma de acionistas, que vive escondida por aí, vai começar a fazer muito barulho no futuro.
Não é coisa pequena. É muito poder nesse assimétrico monopólio, de variados nomes e marcas (concentrados nas mãos de super executivos que orientam chefes de estados). Essas ações financeiras, não são derrotadas facilmente na ONU. Mas, seja lá o que for, há uma teia poderosa por trás disso que, acreditem, foi turbinada pelo pai de Fábio, que na época era presidente, e, sobretudo já começava a prever grandes tempestades pela frente. Para isso construiu um sistema de fuga, um contra ataque, uma guerrilha cibernética.
Logicamente essa guerra não terá heróis conectados com as estruturas mentais avançadas de Joseph Campbell. Será uma batalha sem significados legítimos, muito aquém de uma visão científica mais apurada.
Aposto que neste momento, no grande cassino de alegorias matrixianas, José Serra, Daniel Dantas, Verônica Serra e Verônica Dantas, estão com seus brinquedos tecnológicos, micro drones, ligados para saberem se essa engenhosidade funcionará mesmo; afinal, de contas, eles não querem ficar por fora desta "sofisticada" tecnologia, principalmente quando ela poderá ser gerenciada (definitivamente) por seus "algozes" capitalistas, mascarados de trotskistas, de maoistas, de stalinistas e de gramscianos.
Já Michel Temer, e os seus leais servidores, na outra fase da moeda, devem estar vagando por mundos primitivos. Eles são mais selvagens e com uma leitura macro bem definida. Diferente do PSDB, por exemplo, que ganha aparência Alckminista, com disposições para enveredar pelas trilhas de Mary Shelley, com o seu novo Frankenstein.
Voltando ao PMDB. a cadeia alimentar desta mantilha é complexa e perigosa. Semelhantes a Caliban, personagem criado por William Shakespeare da peça "A Tempestade", os peemedebistas rascunham nas entranhas obscuras do poder, uma maneira para continuarem no seu canabalismo predatório, sem serem incomodados, fazendo vista grossa para os movimentos do filho de Lula.
Como se fosse um asceta de Vladimir Putin, presidente da Rússia, que mira suas forças psicologizantes nos processos "delirantes" da espionagem, para ter absoluto controle do fluxo de informações domésticas, forenses, econômicas e políticas, o descendente direto de Lula parece seguir a mesma cartilha do novo czar pós-modernista.
Ele quer ter as senhas que movem a engrenagem dessa nova fase da cultura globalizada, hibrida, e certamente tingida pelas cores construídas pelo filósofo e marxista Antonio Negri, que diz acreditar numa grande transformação vinda através dos negócios digitais e biotecnológicos. Pelo que se nota, a turma do sindicato não é boba. Ele apenas se camufla.
E que entre outras tratativas, o garoto Fábio Luís Lula está mais vivo do que aparece nas imagens mediáticas. Segundo o jornalista, o herdeiro do ex-presidente, do jeito que as coisas caminham, será dono de um espaço considerável de determinados mecanismos econômicos. 
Serão outros tempos. Novas demandas e novos enredos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Sombras de uma realidade fragmentada







É impressionante ver como as pessoas se deixam levar por falsos conceitos ideológicos e, perversamente nas suas incoerências, nutrem uma fantasia por mitos duvidosos que estrangulam a essência de uma racionalidade compromissada com o bem estar social, ou por uma investigação intelectual mais apurada.

Nos últimos anos assistimos no Brasil à multiplicação de vozes acadêmicas que, entre outras bizarrices comportamentais, se rotulam de “esquerda”, e não abrem espaços, por exemplo, para aqueles que preferem o liberalismo clássico europeu. Que por sinal é uma minoria. Que o digam os leitores de Noberto Bobbio (1909-2004), um cânone da literatura jurídica, que dava ênfase a um estudo mais detalhado sobre filosofia política, para não cairmos nas armadilhas dos excessos construídos pelas ideologias.

O que acontece? Esse pequeno grupo, que tem o pé no liberalismo clássico europeu, é freqüentemente banido dos processos científicos, sem direito a verba de pesquisa. Por que simplesmente não comungam com as idéias daqueles que se intitulam donos de verdades “marxistas”.

A ironia dessa história é que muitos desses “especialistas”, do pensador prussiano, não compreendem com profundidade o que Karl Marx (1818-1883) escreveu de fato. São atores medíocres que não focam pela excelência científica e sim pelos seus belos salários. Afinal, eles prezam por um status quo intacto.     

A filósofa e economista marxista Rosa Luxemburgo (1871-1919), que também conhecia com profundidade as obras dos liberais Adam Smith (1723-1790), John Locke (1632-1704) e J.S Mill (1806-1873), tinha alertado sobre as falsas concepções dogmáticas de verdades doutrinárias. Segundo ela, isso anularia a igualdade argumentativa e a construção de uma civilização com maturidade intelectual suficiente, para sanar os problemas humanos. Em uma de suas máximas, Luxemburgo previa uma série de ritos estranhos ao dizer: “A liberdade apenas para os partidários do governo, apenas para os membros do partido, por muitos que sejam, não é liberdade. A liberdade é sempre a liberdade para os que pensam diferente”.

Ao longo dos anos vimos uma impositiva “evolução” estatal petista, por parte do magistério universitário, obrigando seus alunos a repetirem uma cartilha autoritária de “valores” que, nos seus enredos psíquicos, ajudam a produzir uma nação de zumbis. A sua maioria, já conectada por uma rede controlada pelo grande irmão (big brother), como profetizou o escritor e jornalista George Orwell (1903-1950), mergulha em um mundo sem singularidades. Crêem que a vida tem apenas um lado.      

Tanto é que a filósofa Marilena Chauí, por exemplo, uma engajada petista, com sua metralhadora verborrágica, insiste na tese que seremos engolidos por uma direita reacionária, incapaz de vislumbrar uma transformação profunda. Seus exageros, manias e tiques nervosos contra a classe média, que ela diz odiar, se transformou numa cacofonia conspiratória ao afirmar que o juiz Sérgio Moro foi treinado pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) para desarticular o governo petista.

Como doutrinadora de verdades, e por seus estímulos aguçados por uma elite petista militante, Chauí é um modelo que prospecta falsos conceitos. E os seus discípulos zumbis adoram essa mentira. Mas será que a professora, no seu salto alto mental, se esquece que ela é cúmplice de uma engenhosa façanha estatal, que aniquilou completamente a lógica de uma gestão compromissada com o bem estar social?

A precariedade humana estabelecida pelo seu partido, o PT, desconfigurou completamente o sentido da ética política, ao por em prática um forjado mecanismo de “proteção” social de dependência paternalista e, principalmente, de ter esquematizado um plano econômico totalmente ilusório, alimentado por falsos conceitos apresentados por uma gente que insiste possuir o poder da verdade. Não passam de sombras que vislumbram realidades fragmentadas.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Michel Temer é pior que Washington Luis






Novamente o governo federal se sucumbe pela falta de informação. Ao apresentar as suas medidas para "reduzir os gastos públicos e iniciar a retomada econômica do país", nota-se, como sempre, uma viciada linguagem tecnocrática, encapsulada por teorias ultrapassadas e veneradas como certas, por mentes, que, sem qualquer erro de cálculo, lembram os senhores de engenho.

Percebe-se, nos olhares dos "ilustres ducados", e, principalmente, no de Michel Temer, uma enganação sendo produzida para atender alguns interesses, diga-se, de um mercado fisiologicamente conservador.

Esse plano, arquitetado pelos auxiliares do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, faz lembrar muitos episódios da história brasileira, obviamente com outras narrativas, mas, que se entrelaça por conveniências de grupos econômicos fechados, que não possuem qualquer relação com as atuais demandas planetárias. É um projeto que não vislumbra o desenvolvimento social.

Os argumentos teóricos expostos até agora, na sua conceituação, são temperados por gotículas de fascismo e autoritarismo. Completamente desconectado com a realidade coletiva, Michel Temer é a extensão de algo menor, sem brilho e, sobretudo, sem cultura cooperativa; aliás, esse termo cooperativismo, não faz parte do seu vocabulário.

Passados alguns dias, desde a sua posse como presidente interino, sinto que Temer é pior que Washington Luis (1869-1957), que presidiu o país de 1926 a 1930.
Conhecido como Seu Lulu, o último presidente da República Velha, era advogado, promotor e jornalista. A atriz francesa Gabriele Dorziat dizia que ele tinha os olhos "mais lindos do mundo".

Era um presidente que adorava a boêmia e o carnaval, mas, com todas as suas façanhas popularescas, isso não o ajudou a manejar o leme com destreza. Pelo contrário. Só se viu grandes atrapalhadas, o que abriu brechas para a famosa revolução de 1930, com a entrada de Getúlio Vargas (1882-1954) no poder.

Ao assumir o cargo, em uma das fases mais turbulentas da história, Washington foi engolido pelos seus auxiliares que, entre outras aberrações, não passavam para o chefe os movimentos que ocorriam no país, a partir dos levantes populares. Resultado: o presidente foi destituído e preso no Palácio da Guanabara. Obviamente, era um mundo mais doméstico. Não havia as "complexidades" geopolíticas que estamos vivendo.

Pois bem. Os anos se passaram e muitas coisas mudaram. Menos uma: A ARROGÂNCIA PELA FALTA DE UMA VISÃO POLÍTICA. Logicamente dá para linkar outros exemplos, mas percebo que as
falhas e fracassos de Michel Temer, com os seus ardilosos auxiliares, serão lembrados no futuro, mostrando que foi um homem extremamente provinciano, com o corpo e a alma dominados por um sistema financeiro completamente antidemocrático, que detesta falar sobre DISTRIBUIÇÃO DE RENDA DE RIQUEZAS, QUALIDADE NA EDUCAÇÃO OU NA EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR.

Esse é o mundo Temer. Vazio e sem graça.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Rizoma






Em breve vou lançar "Rizoma - O Círculo do destino e sua ontológicas histórias-", no formato e-book e em livro impresso pela Editora Lesma Poesia. É o meu primeiro romance com um olhar essencialmente feminino, provocativo e, sobretudo, marcado por recortes históricos culturais, políticos e filosóficos.
Alguns depoimentos foram escritos por jornalistas, escritores e editores, para fortalecer as teias rizomáticas do romance. Um deles é do editor e poeta Osmir Lesma Poesia.
"Durante a leitura do livro Rizoma, me veio sempre uma palavra: passagem. Tanto nos lugares – alguns dos quais conheço – e personagens, com frenéticas estações e fragmentos, sempre tive a ideia de movimento segmentado e que alguém controlava o ritmo, no caso o autor. Esse estilo não linear de literatura e memorialística é o alimento básico para leitores cientes de um mundo em constante desconstrução. Ao deparar-me com a substância incolor destes diálogos e cenários tão sem alcance, me atrevi a compreender a distância como encontro. Doce frenesi e identidade. Suspeitei que do outro lado do universo literário alguém ouvia e dialogava com meu ruído interior. Terminei de ler e fiquei pensando, procurando. Como fumaça, nódoa e algodão... Para ser mais impreciso; rizoma puro."

Sem idealismo a loucura se transforma em mercadoria


Eu gosto dos franceses. Em especial Antoni Artaud (1896-1949) e Michel Foucault (1926-1984). O primeiro foi anarquista, poeta, ator, diretor de teatro e um dos maiores nomes para se compreender, de um ponto de vista artístico, as gestualidades internas da loucura; o segundo, um exímio historiador das ideias, filósofo e crítico literário, se articulava em expressões científicas acadêmicas, principalmente nos estudos sobre a teoria da biopolítica.

Os dois sabiam, com exatidão, os processos que geram as diferenças humanas. Eles entendiam que o declínio da cultura ocidental se daria por razões militaristas, sobretudo, focada numa zona obscura do capital voltada para uma servidão humana cruel, iniciada pelo cientificismo alemão nazista a partir da ascensão de Adolf Hitler (1889-1945) e formatada pelos americanos no pós-guerra no governo de Harry S. Truman (1884-1972).

Basta ler “A Era dos Extremos”, Companhia das Letras, escrito por Eric Hobsbaw (1927-2012), para clarear as ideias de como a barbárie se tornou sofisticada numa civilização, incongruente ao modus operandi da natureza, que continua a seguir silenciosamente os interesses de um domínio predatório.

Segundo Hobsbaw, a humanidade sobreviveu. “Contudo, o grande edifício da civilização do século XX desmoronou nas chamas da guerra mundial, quando suas colunas ruíram. Não há como compreender o Breve Século XX sem ela. Ele foi marcado pela guerra. Viveu e pensou em termos de guerra mundial, mesmo quando os canhões se calavam e as bombas não explodiam.”

O século XX também foi “eficiente” para se criar sistemas e instrumentos parasitários de poder. A essência de sua arquitetura, obviamente distante dos olhares cotidianos, foi projetada por centros de pesquisas estadunidenses. Tal referência pode ser encontrada no livro “Futuros Imaginários – Das máquinas pensantes a aldeia global”, de Peter Barbrook. É um caldeirão de valores simbólicos (televisão, rádio, literatura, artes plásticas, música, computadores, internet, celulares e outros utensílios), que se apropriaram de técnicas linguísticas bem elaboradas com o objetivo de controlar.

 George Orwell (1903-1950) que criou o termo Big Brother errou? Não!!! Ele só deu a dica de como a humanidade entraria no seu estágio de misosofia (aversão ao saber) se impulsionando para a esfera de uma passividade mental doentia.


Loucura e domesticação mental
Nesta dinâmica de raciocínio faço uma referência ao livro “A História da Loucura”, de Michel Foucault. Ele apresenta um panorama sobre a edificação da doença mental, criada e estudada nos laboratórios hospitalares, que a projetaria como artefato dentro das estruturas sociais com elaborado apoio governamental e da indústria farmacêutica. E, como não poderia deixar de ser, o território de Barbacena serviu para esse propósito.

Entramos no século XXI com a mente cambaleante. Com aproximadamente 8 bilhões de pessoas, a Terra está sucumbindo. Falta água, aumentam às catástrofes antrópicas (geradas pelo próprio homem), epidemias se alastram pelos quatro cantos do planeta, bilhões de pessoas sem casa ou comida e, principalmente, sem trabalho.

Será que isso não faz parte de uma passividade mental construída, parafraseando Focault, para “vigiar e punir?” Não estaríamos presenciando outro grau da deficiência cognitiva produzida no passado? Neste cenário a loucura e a domesticação mental se transformaram em elementos precisos de manipulação.

Consumismo, preconceito racial, homofobia, dependência tecnológica e química, exploração exponencial dos recursos ambientais, guerras, narcotráfico e tantas mazelas surgidas nos últimos tempos, provam que ainda vivemos na síndrome do mito da caverna, pensado por Platão (427 a. C/347 a.C).

Dá para perceber que o histórico sobre a doença mental não está localizado ou conceitualmente datado. Pelo contrário. Ela está presente em todos os aspectos; no fundamentalismo ideológico ou religioso, podemos detectar suas ações perniciosas. Um asco da insanidade alimentada pelos burocratas.

Outra coisa, não se engane, a doença mental está ganhando vida e se movimenta livre... Do contrário, não teríamos tantas desconfigurações orgânicas pelas nossas cidades. Mas, tudo isso se deve também a preguiça para questionar os problemas que danificam direitos, deveres, valores e propósitos éticos.

Alguns lançam livros, fazem filmes e promovem a loucura como um produto. Quem ganha nesta história? Será que comunidade, no seu todo, se interage sobre esses acontecimentos? Assim como pensava o psiquiatra Vinicius Samara, tragicamente assassinado em Barbacena, que tinha uma abordagem clara sobre a questão? Não!!! Eu conhecia Vinicius e entendia suas ideias. Era uma mente libertadora... Nunca fez marketing sobre o tema, pois sabia que o buraco era mais embaixo. E como é!!!

Isso ocorreu na virada da década de oitenta para noventa, as pessoas não usavam disfarces egocêntricos. A luta antimanicomial tinha um objetivo claro. Questionar os pormenores desse grande drama, com ativa participação de vários atores sociais, com o objetivo de desconstruir a fidalguia de uma medicina que ainda tinha os pés no cientificismo nazista.

Como podem ver... Não era uma tarefa fácil. Contrapor esquemas corruptos e as malandragens do sistema exigia muita coragem. Mas quem se importa com a memória daqueles que não tiveram qualquer relação estatal ou que fizeram algo realmente relevantem sem focar em benefícios próprios?


Isso me lembra quando o psicólogo Jaques Delgado lançou o seu livro “A Loucura na Sala de Jantar”, em 1991, em Barbacena. Seu trabalho realizado em Triste, Itália, que traz referências de Basaglia, Rotelli, Dell’Acqua e Artaud, contribuiu com o processo de uma discussão e implantação por uma nova política pública mental no Brasil. Sua presença na cidade foi marcante. Sua provocação de como devemos abordar a questão da loucura, não como produto comercial, e, sim como algo a ser levado a sério, deveria ser refletida pela nova geração. Do contrário só teremos devaneios e poucas perspectivas de mudança. 

Pós-pandemia: um futuro de humanos/máquinas

  Francis Bacon.  Figura com carne O  início desta década de 20 está marcado pela complexidade da dissensão ontológica. Isto é bom ou ruim?...