sexta-feira, 13 de setembro de 2019

A ignorância vendida por Olavo de Carvalho







A soberba doentia de Olavo de Carvalho é um fato. Vejo nela a expressão da ruína de um século menor, sem a exatidão e leveza apresentada pelo cubano Ítalo Calvino, no seu livro "Seis Propostas para o Próximo Milênio".
Para ser sincero, eu sinto falta das relevantes opiniões do argentino Jorge Luís Borges que, além de ter construído uma obra fenomenal, tinha uma lista de citações de mentalidades poderosas que ainda colaboram na evolução de nossa espécie.
No campo das discussões Olavo de Carvalho tem intervenções medíocres. As suas citações bibliográficas, a sua falácia mentirosa e, principalmente, a sua idiotice política são resultados de uma completa cegueira sobre a nossa condição humana na Terra, assunto bem explicado pelo alemão Thomas Mann, no livro Montanha Mágica.
O falso filósofo foi absorvido por uma turma mentalmente infantil; são órfãos de uma nação fragmentada. Eu prefiro a dialética dos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana que, sem nenhuma dúvida, são intelectualmente consistentes. Olavo usa jargões esquisitos e, acima de tudo, erra nas suas formulações.
Os estudos, as rasas pesquisas, apresentadas por ele provocam enganos históricos e filosóficos. Se estivesse vivo, o alexandrino Eric Hobsbawm teria crises de desespero ao ver as manifestações desse desbocado Chacrinha de uma pós modernidade aflita.
O que diria Umberto Eco, se também estivesse entre nós? Talvez o "ilustre" enganador brasileiro, serviria de objeto de estudos semióticos para o professor italiano.
E o que pensaria o escritor brasileiro Moacir Scliar ao ver as inutilidades e prepotência de um demente corpo em decomposição? Decerto Scliar, o mestre das histórias curtas, criaria uma narrativa sobre os tormentos de um homem repleto de afetações mentais, principalmente quando o assunto é sexo.
É visível como o corpo de Olavo se contorce e a sua voz fica trêmula quando tenta esmiuçar sobre o tema da sexualidade. Será que o "ávido" ideólogo do atual governo, não leu o francês Marquês de Sade, o inglês D.H Lawrence, o japonês Yukio Michima ou o anjo pornográfico Nelson Rodrigues? Se tivesse lido não cometeria falhas nas suas reflexões sexuais.
Enfim, no quesito sexologia, Carvalho decepciona. No mais, sinto que esse senhor se transformará numa das maiores figuras folclóricas do Brasil. O americano William Burroughs deve está rindo desse louco, desse jagunço de palavras vazias, surreais, que tem a insanidade de dizer que Theodor Adorno produziu as letras dos Beatles.
Qualquer dia, o sem noção da cultura pop, vai afirmar que quem escreveu as canções de Oasis e do The Verve foi o escritor americano Philip Roth.
Outro erro feio do velho bruxo é quando ele cita a Escola de Frankfurt, como sendo um centro de diabólicos movimentos criados por uma dialética negativa (sic) que gira em torno das ideias de Adorno, contra tudo e contra todos.
O velho bruxo, o rasputin brasileiro, deveria saber que na Escola de Frankfurt, o alemão Jurgen Habermas desconstruiu a Dialética do esclarecimento de Adorno.
Influenciado pelo austríaco matemático e filósofo Ludwig Wittgenstein e Karl-Otto Apel, Habermas cria a base de novos projetos sócio-políticos de emancipação. Abre espaço para novas discussões sobre diversos temas das humanidades. E Carvalho parece desconhecer este fato.
Aliás, Olavo no seu íntimo sabe que as suas análises não levarão seus discípulos a lugar nenhum na superfície terrestre e, sim, valendo-se de um raciocínio metafísico, provocará um deslocamento de todos eles para os círculos infernais descritos por Dante Alighieri, na sua magistral Divina Comédia, onde reina a ignorância.
No fundo, Carvalho compreende que comete auto engano constante, mas seu desajuste mental lhe dá forças para prosseguir, como se fosse o baluarte da justiça e da verdade. Carvalho é a síntese, um exemplo, de um "projeto" civilizatório que deu errado.
Ele, certamente, seria um personagem coadjuvante da obra de Robert Musil. Um falastrão, sem conteúdo autêntico, como diria Arthur Shopenhauer.
As suas repetições teóricas, embasadas em processos conspiratórios, podem ser bem analisadas na obra de Gilles Deleuze, no seu livro Diferença e Repetição. Suas exposições de ideias no cotidiano se repetem, e parecem se ajustar a um estudo profundo de substratos do pensamento analítico.
Obviamente, Carvalho faz uso de uma retórica de persuasão. E como no Brasil o rito de passagem é uma anomalia cultural, pela ausência de uma educação profunda, o falso filósofo faz uso dessa deficiência para formatar dialéticas sem sustentação real.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Nixon: o fantasma de Trump


fonte de imagem: Foreian Policy


Mais uma vez a América Latina se torna cenário das elucubrações farsescas do governo dos Estados Unidos da América, com o objetivo de mudar o foco dos acontecimentos políticos que rondam como fantasma a Casa Branca. Um deles, a interferência da Rússia que teria favorecido o republicano Donald Trump a ganhar as eleições em 2016, e outras mazelas estranhas ao conceito de evolução das instituições sociais.

Se no passado, o comandante-em-chefe Richard Nixon (1903-1994) e seu principal auxiliar Henry Kissinger criaram o terror anticomunista para sustentá-los nas suas astúcias geopolíticas pelo mundo como, por exemplo, a eliminação do chileno Salvador Allende (1908-1973), agora é a vez de Donald Trump inventar novos inimigos regionais, com a conversa tosca de intervenção militar na Venezuela contra Nicolás Maduro. Com qual pretexto?

Em 1973, Nixon sentia na pele a ruína da sua popularidade causada pela guerra do Vietnã. Ele e Kissinger resolveram que a melhor solução para desviar o clima de tensão em solo americano, seria patrocinar a queda de um presidente considerado socialista. Henry e Richard não deram a mínima para os conselhos da agência de inteligência que, através de diversos memorandos, informava que Allende não era uma ameaça regional.

O resultado dessa desastrada estratégia, que não gerou conseqüências jurídicas para Richard e Henry, é que foram mortas 3.000 pessoas e 28 mil foram torturadas pelo regime de Augusto Pinochet (1915-2006), um ditador construído sobres os escombros das paranóias alimentadas por um presidente e um auxiliar ávidos pelo poder.

O economista Francis Fukuyama autor do livro “O Fim da História e o Último Homem”, transitou como estrela pop na mass mídia durante a década de 80 e colaborou no governo de Ronald Reagon (1911-2004), tem dito que os Estados Unidos só tem a perder com a ideia de exportar democracia e mercado pela força do Exército, mas essa análise não influencia Donald Trump, que prefere seguir os passos de Nixon.

No atual contexto dos fatos, eu gostaria de saber exatamente qual é o perigo que Maduro representa ao mundo dito civilizado? Por acaso, ele ameaça a paz planetária com ogivas nucleares? Ou, faz churrascos com criancinhas? Como sempre, o condicionamento midiático, os seus interesses econômicos e ideológicos, com suas camadas invisíveis, distantes das percepções da realidade cotidiana da maioria das pessoas, invertem os valores e forjam a realidade, e criam os seus monstros, apoiados por qual mídia?

Mas isso está nas entranhas de um poder perverso, perturbado, distante das ideias geniais do francês Alexis de Tocqueville (1805-1859), que inspirou os princípios da constituição americana, quando o conceito de modernidade emanava teorias singulares, ou se agitava na evolução dos pensamentos de Ralph Emerson (1803-1882), com seu transcendentalismo poético, que mantinha um olhar compromissado com o bem estar humano. Um ideal que não faz parte dos valores morais do financista Trump.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O meu primeiro encontro com Bibi Ferreira

fonte imagem: Veja - Abril.com  

Em 1981 eu saí do interior de Minas Gerais, com uma pequena mala, com o objetivo de desvendar os segredos da cidade maravilhosa. Com 17 anos, recém completados, desci na rodoviária Novo Rio, e fui direto para um dos lugares mais interessantes do Rio de Janeiro que é Copacabana, exatamente na rua Siqueira Campos onde se concentravam artistas, escritores, intelectuais, michês, prostitutas e políticos recém chegados do exílio.

Nada acontecia por acaso na Siqueira Campos. Havia um motivo. Ele se chamava Teatro Tereza Rachel (hoje Theatro Net Rio), um espaço cultural que resistiu bravamente ao massacre criado pela ditadura militar. O teatro mantinha uma aura de aglutinação, de efervescência artística e de contagiantes dinâmicas ontológicas. Era um ecossistema de ideias fecundas. E esta aura de coexistência coletiva fazia da rua um espaço único.

Eu trazia na minha cabeça as imagens inocentes do som das frenéticas, das discotecas Dancy Days e Hippopotamus (lendário reduto da boêmia carioca), do Arpoador e de tudo que se falava do Rio de Janeiro nas revistas, nas novelas e nos jornais. Mas, felizmente, isso durou pouco e comecei a viver em um universo completamente diferente, mais amplo, sofisticado e, acima de tudo, libertário numa era analógica.

Residia no apartamento de Ligia Ferreira, irmã mais nova de Bibi Ferreira, filhas do grande ator Procópio Ferreira. Eu era amigo da família. Principalmente de Benito e Carla, irmãos de Ligia por parte de mãe, que me convidaram para morar com eles. Na época, vivíamos grandes aventuras juvenis. Literalmente o mundo ao meu redor, com os meus parcos valores existenciais, começava a se transformar.

Era uma virada radical de página. Assim, naturalmente, me iniciava em poderosas narrativas humanas, que não eram apresentadas ao público, pois vivíamos ainda o fantasma da ditadura, e a turma não estava a vontade para expressar as suas ideias, portanto, o apartamento de Ligia se tornara um ponto para grandes reuniões. Nele freqüentavam artistas, jornalistas, intelectuais e escritores.

Foi neste lugar que conheci Bibi Ferreira, a diva do teatro. Gentil, inteligente, ela se mantinha atenta a todos os detalhes das produções dos espetáculos. Eu presenciava as conversas que ela tinha com Ligia sobre turnê, contratação de pessoal e logística de viagem.

Também frequentava outro apartamento de Bibi Ferreira, no bairro Flamengo, onde ficava o seu acervo, com roupas, cartazes, cenários e adereços, das peças que ela fez. Eu caminhava pacientemente pelos cômodos, e sentia uma vibração pulsando por todos os lados, em um local que trazia a história do teatro produzido por Bibi Ferreira. Creio que foram poucas pessoas que tiveram acesso a esse apartamento, porque ele era trancado a sete chaves.

Para um garoto do interior que ansiava desvendar os segredos do Rio de Janeiro, essa foi uma experiência excepcional. Ao conhecer pessoalmente uma das personalidades mais vigorosas do teatro brasileiro, considerada a sua diva, referência de várias gerações de artistas, isso foi realmente marcante. E como foi!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Empreendedorismo, a chave do desenvolvimento



O Brasil vive um dos momentos mais conturbados de sua história, como se tudo estivesse perdido, sem rumo e sem saída, por causa dos sucessivos erros administrativos provocados pelos nossos governantes nos últimos anos. Do ponto de vista psicológico coletivo, os efeitos dos impactos negativos que afetam a economia e a política, criam angustia e obscuridade mental. A sensação é de que naufragamos de vez.
Obviamente, as falhas dos poderes do Legislativo, do Executivo e do Judiciário geram uma percepção míope sobre a nossa condição humana, e alimenta uma letargia constante, uma preguiça mental e física para tentarmos deslumbrar um futuro mais interessante, exatamente pelo acúmulo de notícias ruins.
Entretanto, mesmo que haja incongruências no nosso cotidiano político, é necessário acreditarmos em algo sublime, que se concretize na produção do bem estar social, e que reflita suas representações nas áreas da saúde, educação, cultura, moradia, meio ambiente e da segurança alimentar.
Para que os resultados sejam positivos, precisamos vencer o medo, a barbárie da corrupção e a inércia das ideias, na construção de uma realidade mais digna e racional, pois só assim eliminaremos vícios e teremos novas percepções sobre o significado de nossa existência humana
Eu tenho a convicção de que o caminho certo para sairmos desse labirinto, é a participação estatal no fortalecimento de práticas empreendedoras eficazes, obviamente conectadas com o setor privado, na elaboração de projetos consistentes de desenvolvimento nos campos da ciência e da tecnologia, principalmente neste momento em que se inicia a quarta revolução industrial, onde o Brasil se torna peça fundamental nesta nova virada de página.
Se olharmos o passado, veremos que muitas atitudes estatais surgidas em outros países foram interessantes e definiram os rumos da economia global. Depois da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, quando os Estados Unidos criou a Big Science houve uma completa mudança de paradigmas.
Esse sistema possibilitou estratégias de defesa, constituídas por uma vasta e complexa rede integrada, que envolvia os setores da indústria e do mundo acadêmico direcionado para a ciência de ponta. Tais experiências foram decisivas para o surgimento da nanotecnologia e da biotecnologia, e de outras invenções na área da informática, gerando emprego e renda para milhões de pessoas.
Argumentos sólidos que fortalecem essa tese não faltam. Um deles é do historiador Paul Forman ao dizer que durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, houve volumosos financiamentos, por parte do governo, com a defesa. Isso provocou uma mudança radical na física, que pulou para a pesquisa básica e para aplicada, quase na velocidade da luz, o que contribuiu para a formação de mentalidades competentes.
E o Brasil, como ficou neste enredo? Bem... O país, que tem um grande potencial mineral, com uma das pontuações mais altas do mundo (98 para uma escala de 100) e que, acima de tudo, possui uma impressionante biodiversidade marinha e terrestre, infelizmente ficou refém de uma burocracia que engessa a sua capacidade de investir em cérebros e em novas tecnologias. Possuímos a matéria prima, mas não fortalecemos o capital humano com uma educação de qualidade a partir do ensino fundamental.
Por aqui a nossa “meritocracia” ainda é cruel, pois dá chances as minorias para que conduzam as rédeas do jogo, e exclui a maioria de uma formação educacional de qualidade; já na via dos desafortunados, vemos aumentar o capital informal que agrega milhões de jovens para o universo do crime, sem nenhuma expectativa de vida.
Contudo, volto a frisar, a grande transformação virá quando tivermos políticos com visão, e com a compreensão, da eficácia do conhecimento científico e tecnológico aliado à ações empreendedoras para se fazer o país crescer. Somente o empreendedorismo é a chave para enfrentarmos os dilemas que nos assombram neste início de século.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O genial Gore Vidal


Quando o escritor Gore Vidal (1925-2012) saiu de cena o mundo estranhamente se transformou numa aberração, alimentada por uma noia de “ordenamento” fascista, em todos os aspectos do comportamento humano. Em vida, apesar de ter sido perseguido pela onda do macartismo dos anos 50, o genial pensador foi um combativo defensor da liberdade e da cultura. Não se escondia e não foi dedo duro.
Ao longo de sua vida foi coerente quanto às suas escolhas sexuais e ideias políticas, e se isolou do mundo domesticado da sua terra natal se refugiando, durante um bom tempo, na Europa. Homossexual assumido, com várias histórias de luxuosos bacanais, Vidal produziu muitos livros de qualidade. Criação, Sede do Mal, Lincoln, Memórias de Adriano, A Era Dourada, 1876, Cidade e o Pilar e Myra Breckinridge são obras extraordinárias, que abrem espaços para belas narrativas épicas, sociais e comportamentais.
Alguns deles se tornaram filmes e peças de teatro, que escracham com muita sofisticação, a hipocrisia da elite conservadora norte-americana; afinal, Gore era uma voz única, que não se agarrava aos modismos literários. Ele gostava mesmo era de balançar as estruturas do mundo sozinho, sem se prender a qualquer espécie de movimento cultural vigente.
Atualmente, pouco conhecido pelas novas gerações, principalmente no Brasil, Gore Vidal é referência de um intelectual de fibra e sem amarras ideológicas, apesar de ser definido como liberal, ele pode ser considerado um dos maiores nomes da literatura do século 20. O escritor vendeu 300 milhões de livros, numa época que não existia YouTube, Facebook, Twitter e Instagram, mas tinha a televisão, o rádio e os artigos que escrevia nos jornais, que o ajudaram a popularizar internacionalmente o seu trabalho
.
Por aqui não tivemos nenhum nome na literatura, como foi o fenômeno Gore Vidal, porque o Brasil começou o seu declínio cultural no período pós-64, quando a nossa intelectualidade foi pro limbo. Nesta época, foi inaugurado um estilo corporativo literário, voltado para uma narrativa de clichês humanos, que foi absorvida mercadologicamente pelos canais de TV que colaboraram na fragmentação da nossa cultura.
Mas voltando a Gore Vidal, a sua capacidade argumentativa, com sutis pinceladas de ironia, era formidável. E isso pode ser constatado no documentário “Melhores Inimigos”, que está na Netflix, quando Gore Vidal literalmente leva a nocaute William F. Buckley (1925-2008), um conservador e amigo pessoal do presidente Ronald Reagon (1911-2004). Era uma espécie de Olavo de Carvalho melhorado, mais sofisticado, mais erudito e mais articulado que o autor dos Jardins das Aflições.
Em 1968, durante as eleições presidenciais, tendo Richard Nixon (1913-1994) candidato republicano e Hubert Humphrey (1911-1978) representando os democratas, a TV ABC produz um debate entre Buckley e Vidal para colocar lenha na fogueira com duas figuras públicas famosas, um conservador o outro liberal, para digladiarem sobre o processo eleitoral dos Estados Unidos, numa das suas piores fases.
O clima no país estava pesado. Com os assassinatos de Martin Luther King (1929-1968) e do candidato presidencial Robert Kennedy (1925-1968), o medo era o principal inimigo do povo. Ainda havia os distúrbios raciais, Guerra do Vietnã e confrontos violentos nas universidades, portanto, o público entendia que o enfrentamento de Buckley com Vidal traria a tona muitos fantasmas, só não sabia que se transformaria num duelo de inimagináveis agressões verbais por parte de Buckley.
O canal ABC apostava tudo na audiência do debate. Só que as coisas saem de controle quando o conservador surta ao ouvir o autor de “Império” chamando-o de criptonazista. Não deu outra. As expressões faciais de William Buckley mudam completamente, seu corpo mexe em direção do oponente com a ameaça de um soco no nariz, e diz com voz raivosa ao vivo em rede nacional que Gore Vidal era um veado.
Esse episódio, de alguma forma, foi marcante na cultura pop americana. Um duelo intelectual que mostrou o potencial argumentativo de Gore Vidal, definindo-o como uma das mentes mais poderosas dos últimos tempos, dando a verdadeira noção da sua estatura humana, que colocou em xeque o establishment conservador, deixando o seu principal porta voz, William Buckley com seqüelas que se arrastaram até o final dos seus dias.
Em pleno século 21, quando os significados de esquerda e de direta, ou mesmo os conceitos de anarquia, de comunismo, de socialismo e de capitalismo foram distorcidos, e se tornaram utensílios para falsas conjecturas, há um vazio de ideias dentro do universo acadêmico e fora dele, porque não temos intelectuais interessantes e ativistas como foi Gore Vidal. Definitivamente ele faz muita falta.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

A servidão de Sérgio Moro



Quando eu estudava direito não perdia tempo com falsos gurus doutrinadores e procurava os melhores. Um deles foi Thomas Nagel, professor de filosofia e direito da Universidade de Nova Iorque, que tem um trabalho consistente nos campos da filosofia da mente, filosofia política e ética.
Debrucei-me na sua obra e abri caminhos para refletir sobre a função do judiciário, em uma realidade destroçada por forças antagônicas ao progresso da civilização e, assim, como Nagel, conclui que não chegamos a lugar nenhum, e nos tornamos escravos de simulacros embutidos como verdades supremas. Em todas às áreas do conhecimento humano.
Os séculos se passam e continuamos presos nas metáforas do mito da caverna, criadas por Platão. Ignorantes sobre as representatividades do “mundo real”, nos tornamos reféns de sinistras forças ocultas, que ultrapassam as simbologias criadas por herméticos sistemas de comunicação.
A todo instante vemos, ouvimos e lemos apenas representações de sombras, de ruídos que se expressam através de jornais, rádios, TVs, revistas, blogs e sites de notícias. São sombras que formam um “corpo”, uma “ideia”, um “valor”, e constroem um universo humano de elementos normativos, que ordenam a sociedade e manipulam novos costumes.
E uma dessas sombras que me chama a atenção é o ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro. Doutor em direito, ator principal da derrocada de Luiz Inácio Lula da Silva e de muitos figurões da política nacional, o ex-juiz federal condutor da operação Lava Jato, considerada “exemplar”, pelo apuro técnico que colocou na cadeia muita gente miúda, assumiu um cargo importante num governo que traz o mesmo DNA da corrupção turma que ele sentenciou.
De peso pesado passou a médio, ao que tudo indica, sua escalada política não será grandes coisas e passará a peso leve. Antes tivesse se mantido no cargo de juiz. Talvez essa representatividade o tornaria real, e não uma sombra, uma falsa simbologia do certo e errado, submetendo-o a servir a um grupo político fraco em projetos consistentes.
O pacote anticrime apresentado por Sérgio Moro, na lógica dos acontecimentos, não desconstruíra a influência do crime organizado internacional, que tem braço forte dentro do território brasileiro, com vários tentáculos na economia local, porque não existe uma discussão mais séria para eliminar a exclusão social.
Pelo contrário, o super ministro vai alimentar a dinastia do submundo, que possui um exército de jovens serviçais, em todas as instâncias da sociedade, principalmente da classe média, de onde surge a hierarquia maior de comando, dado a facilidade do acesso com políticos, juízes, empresários e gente de todas as bandas.
Um governo sem projeto nas áreas da educação, da cultura, da saúde, da ciência e do meio ambiente, não tem condições de prosperar, pois o problema do país continua sendo a ausência de investimento no capital humano. Mudar a realidade é mudar o foco de atuação. É preciso inverter os valores, ampliar os debates das verdadeiras demandas da sociedade.
E creio que Sérgio Moro está longe disso. Seus parâmetros de discussão passam distantes das teses bem elaboradas do pensador Norberto Bobbio, que via no direito um instrumento de transformação social, a partir da valorização de uma ética comprometida com o bem estar da população. Fora isso, só aparecerão falsos simulacros.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Pontes, o garoto propaganda de Netanyahu




Marcos Pontes, o astronauta queridinho da mídia brasileira, mostra que sua capacidade de articulação na área de Ciência e Tecnologia, é fraca. Sem tirar os méritos como estudante do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), pois o rapaz tem um currículo exemplar, o ministro dá sua primeira pisada de bola ao divulgar a empresa israelense Watergen que produz água potável a partir da umidade do ar.
Mais uma vez o estamento burocrático, nas suas liturgias estúpidas, marca gol contra. Tudo isso com roupagem de falsos ares diplomáticos, pois o que está em jogo é uma geopolítica economicamente predatória do lucro. Como sempre beneficiando alguns espertalhões do mercado que, como abutres, se posicionam para devorar tudo o que estiver à vista, em detrimento da dignidade de nossa nação.
Tenho saudades da visão do escritor de “Macunaíma”, Mário de Andrade, que insistia no crescimento do país a partir da criatividade nativa, e acreditava no potencial do povo brasileiro em todas às áreas, assim, como o filósofo, escritor e crítico literário Bento Prado Junior pensava: “Não precisamos da metafísica européia, pois temos a nossa própria metafísica”. Isso deveria servir de exemplo a Marcos Pontes, para mostrar que não carecemos da tecnologia de Israel, pois já temos a nossa.
Creio que o conhecimento do atual ministro se limita a grade curricular do ITA, padronizada numa lógica fechada e obtusa. Ora, sejamos francos, as primeiras atividades do emissário das questões científicas e tecnológicas, é a prova viva do quanto subestimamos a nós mesmos.
Essa tecnologia apresentada por Israel, já existe no Brasil desde 2010. Ela está instalada no interior de São Paulo, e se chama Wateair. O seus proprietários já procuraram os governos anteriores, que não deram bola para o projeto, e o atual faz vista grossas porque é desarticulado, confuso e patrimonialista.
O astronauta, que parece orbitar outros mundos, conta com apoio direto de uma assessora de comunicação tagarela, ex-global, transvestida de especialista na área científica. Ela é paga com o dinheiro do contribuinte para divulgar projetos relevantes que estão sendo conduzidos pelo ministério da Ciência e Tecnologia. Mas a jornalista faz o contrário, como a maioria dos seus colegas de outros ministérios, apenas produz peças publicitárias mentirosas. A imagem de Pontes segurando um copo de água, ao lado da máquina israelense é ridícula.
A aparente humildade do ministro é pisoteada pela soberba burra de sua auxiliar, que deveria orientar o chefe a se movimentar com inteligência. Pontes tem boas intenções, mas antes de ter viajado a Israel, deveria vasculhar o que há no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), para saber exatamente o que há de produção no país. Assim não cometeria essa gafe grosseira.
Essa conversa de parceria entre Israel e Brasil é uma fraude. Marcos Pontes foi usado como garoto propaganda dos familiares do primeiro ministro Benjamin Netanyahu, donos da empresa Watergen, que tentam economicamente se ajeitar num governo emergente, que não tem compromissos com o desenvolvimento do país.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Velez é o esteriótipo do idiota


O ministro da educação, Ricardo Velez, indicado pelo "doutrinador" Olavo de Carvalho, é uma deficiência da história política do país. Seus argumentos são precários, fora de sentindo e completamente sem originalidade. Definitivamente é um ser pequeno; ele ocupa uma cadeira, onde deveria estar sentado alguém tecnicamente mais competente.
Gustavo Capanema, Darcy Ribeiro, Pedro Calmon, Abgar Renault e tantos outros nomes interessantes que comandaram a pasta, foram homens excepcionais que conseguiram feitos importantes para o crescimento educacional do país. Eram escritores, antropólogos, filósofos, sociólogos e grandes juristas.
São pessoas que ampliaram os significados de ordem e progresso, sem desvalorizar ou desmerecer o povo brasileiro, como fez o atual ministro que nos chamou de "canibais", ou melhor dizendo de ladrões.
"Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola", disse o ministro.
Mas, como sempre, os "donos do poder" utilizam técnicas para encobrir os verdadeiros canibais e ladrões, que são a maioria dos políticos, os mesmos que deram aval para as chacinas que ocorreram em Mariana e Brumadinho, e que hoje são colegas do ministro no governo de Jair Bolsonaro.
Parece que a função de Velez é criar uma cortina de fumaça, com falas polêmicas, para esconder os erros dos seus novos amiguinhos, ao afirmar que o povo é indisciplinado e que as novas gerações necessitam aprender os significados de moral e cívica para começar a respeitar os valores de uma nação. Que conversa bizarra. A turma que curte Cazuza deve estar dando risadas.
Sem a estatura intelectual e comportamental dos ministros do passado, Ricardo Velez é o esteriótipo do idiota. Volto a repetir, não vejo nele méritos para estar como ministro. Os seus conceitos filosóficos, as suas ideias teológicas e o seus ensaios são fragmentos de discursos pobremente elaborados, sem profundidade humanística, que distorcem o conhecimento.
É neste momento que vejo como Carlos Drummond de Andrade continua atual, com o seu poema "No meio do caminho".
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.
E, no momento, a pedra que está meio do caminho para a evolução de nossa humanidade, se chama: Ricardo Velez.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Varella e sua visão limitada do cosmo

O médico Drauzio Varella é uma das estrelas midiáticas que faz a cabeça de muita gente. Menos a minha! Os seus artigos não me chamam a atenção, e muito menos as suas aparições na televisão, quando surge como uma enfadonha linguagem didática para confabular suas ideias sobre saúde.
A minha preferência, quanto a compreensão do corpo e da mente, está nos processos de yoga apresentados por Paramahansa Yogananda, que viveu no século 20. Um hindu que abriu uma nova janela para compreendermos o funcionamento do organismo e de como usá-lo com inteligência, através da meditação.
O que isso tem a ver com Varella? Vejo que suas abordagens sobre a cultura médica são convencionais, demasiadamente coligadas com um mercado farmacêutico ocidental, que pouco se importa com as grandes avanços da civilização e da pesquisa.
Por isso, prefiro a conversa boa de Yogananda que escreveu livros interessantes. Um deles "Autobiografia de Iogue", que faz uma viagem fantástica em uma Índia, até então pouco conhecida pela humanidade, que traz um universo mais profundo sobre saúde e outros temas importantes, que está aquém do falso samaritano Varella.
Mas, recentemente, dando uma espiada num sites de notícias, me deparei com um título absurdamente ignorante: "Solidão Universal", escrita e postada por Drauzio Varella no seu blog.
Depois de fazer referências biológicas, químicas e paleolíticas, o autor diz que Estamos sós no Universo.
"Ainda que exista vida num planeta distante, encontrarmos um ser semelhante a nós, com quem sejamos capazes de nos comunicar, é altamente improvável. Os hominídeos que nasceram nas savanas da África, há 6 milhões de anos, foram frutos de adaptações a mudanças ambientais e eventos aleatórios, que jamais se repetiriam em outro corpo celeste na ordem cronológica em que ocorreram aqui", comenta o médico.
Fiquei perplexo ao ler isso. Ri muito e, certamente, fiquei triste como esse senhor presta um desserviço ao conhecimento. E analisei com os meus botões como uma figura, que se acha "formador de opinião", pode afirmar com convicção que estamos sozinhos no universo e não existe uma simbiose cósmica, intimamente ligada ao nosso planeta. Que pretensão!
O astrofísico Neil deGrasse Tyson, um dos maiores cientistas da atualidade, diz com humildade que somos menores que um grão de areia no espaço, com uma visão extremamente limitada de como a vida funciona. "Seria muito desleixado dizer que estamos sós no universo. Não temos condições para afirmar isso, pois somos mentalmente frágeis para isso", diz deGrasse.
Quer saber! Ainda teremos que fazer uma longa jornada para descobrir e entender como o microcosmo e o macrocosmo funciona. O conhecimento que temos é grotesco perante ao padrão existente no universo.
Aí aparece o Drauzio Varella para confrontar ideias magnificas apresentadas por Carl Sagan e outras mentes poderosas da astrofísica, que sempre mantiveram abertos para as grandezas do desconhecido. As afirmações de Varella são argumentos fracos, sem singularidades, portanto, com uma visão policromática acanhada do cosmo.

Olavo e Pondé são medíocres



Recentemente vi um verdadeiro festival de bobagens produzidas por Luiz Felipe Pondé e Olavo de Carvalho, duas figuras midiáticas, que me leva a pensar o quanto o Brasil é pobre na sua produção intelectual.
O mais grave é que há um batalhão de jovens, na sua maioria estudantes de nível médio e universitário, que cria valores idiossincráticos, sem qualquer relevância cultural, que se deixam influenciar por essas duas criaturas egocêntricas.
Pondé e Carvalho se tornaram "estrelas" do universo do YouTube, e iniciaram uma verdadeira antropofagia mental. De um lado, o intelectual do establishment oficial disse, numa entrevista de rádio, da ausência de espaço do escritor autodidata no mundo acadêmico, por não ter titulação na área para expor suas formulações filosóficas, com ideias que podem trazer prejuízos ao novo governo.
Na outra ponta da linha, o autor do livro "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", se defende ao dizer que Pondé é um zero a esquerda, um coitadinho e um bosta, ávido para ser ouvido no governo Jairo Bolsonaro, portanto, um parasita e um mentiroso.
Depois Olavo de Carvalho afirma, com o peito estufado, que suas visualizações no YouTube chegam a 300 mil e a de Pondé não passam de duas mil. Essa é uma conversa fiada. Tolo o que pensa que quantidade gera inteligência. Pelo contrário, como diria Nelson Rodrigues: “Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.”
No século 19, Friedrich Hegel (1770-1831) tinha um público estudantil maior que o de Arthur Schopenhauer (1788-1860). Os dois lecionavam na Universidade de Berlim. Enquanto o primeiro, era considerado o grande mestre da filosofia; o segundo, era desprezado pelos acadêmicos, com um número ínfimo de estudantes.
Passado os anos, em pleno século 21, a obra de Schopenhauer tem mais atrativos filosóficos que a de Hegel. Em todos os quesitos. Principalmente estéticos. Obviamente, Pondé e Carvalho não conseguirão, ainda nesta existência, se aproximar da profundidade mental dos alemães. Estão distantes disso!
Apenas comentem gafes insanas. Olavo erra ao se credenciar como portador do conhecimento, por causa do número de visitações no seu canal; já Pondé, uma caricatura da lógica pós modernista, poderia aproveitar o seu espaço mediático para formular questões mais importantes.
Os dois são pura aberração de um Brasil falido de pouquíssimos leitores, que viraram estrelas de um mundo decadente e sem brilho próprio. São incapazes de abrir caminhos para uma discussão mais interessante e real.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Minas Gerais é mais que mineração

                                          Uma das obras de Aleijadinho

O estado de Minas Gerais é uma das maiores potências na cultura brasileira. Em todas as áreas. Na música, na história, na literatura, nas artes plásticas, na dança, no teatro, no cinema, na moda e na sua saborosa gastronomia.
O que aconteceu em Mariana e agora em Brumadinho, poderá despertar outro olhar quanto ao seu futuro que, obviamente, tem o turismo como mola principal para alavancar a sua economia.
Com belos parques estaduais, florestas suntuosas, cachoeiras e rios maravilhosos, Minas Gerais tem tudo para dar certo sem a presença das grandes mineradoras que só impactam o seu território. Chegou a hora de virar a página para uma economia sustentável.
É preciso reconfigurar a sua vocação. Reflorestar todas às áreas afetadas pelos estragos causados pelas barragens, e iniciar um planejamento que tenha como meta o crescimento material da sua população, e não de uma minoria.
Já passou da hora de se fazer algo realmente consistente, sem as perversidades corrosivas das empresas predadoras, que só promovem chacinas e lucram bilhões com a burrice de um sistema completamente em frangalhos, que ainda tem referências num processo industrial obsoleto gerado na primeira fase da revolução industrial.
Mas, agora, em pleno século 21, há necessidades de reação compartilhada com os cidadãos mineiros, que estão fartos dessa imposição estúpida do mercado, de um capital completamente estático do ponto de vista da evolução social.
Minas Gerais, berço dos grandes inconfidentes, é mais que mineração, ela tem condições de ser independente, forte, sem o despudor dessa gente pequena que destrói a sua magnífica paisagem.

Pós-pandemia: um futuro de humanos/máquinas

  Francis Bacon.  Figura com carne O  início desta década de 20 está marcado pela complexidade da dissensão ontológica. Isto é bom ou ruim?...