quinta-feira, 30 de julho de 2015

A imprensa nossa de cada dia


 

 
Definitivamente estamos na fase do jornalismo declaratório. Ou seja, a fonte é bastante duvidosa, sem escrúpulos e sem qualquer vínculo com as dinâmicas da democracia. O foco se concentra na destruição alheia e que se danem todos. Este comportamento insano, alimentado pela grande mídia, criou força a partir da década de 90 e cresceu assustadoramente no século 21.
 
No geral as matérias são superficiais e não possuem fundamentos éticos que comprovem a veracidade das denúncias apresentadas. Isto destrói drasticamente a reputação de pessoas inocentes, que se tornam réus de um simulacro “circense”. Tudo se transforma em um espetáculo mediático.
 
A falta de vigor investigativo e, principalmente, a eliminação de técnicas jornalísticas bem fundamentadas, tem sido assunto de alguns profissionais sérios. É o caso do escritor, jornalista, repórter de televisão, Caco Barcellos. Ele levanta questões importantes sobre isto, ao refletir a importância de apurar uma determinada denúncia com profundidade ao ouvir fontes legítimas, que não sejam simplesmente declaratórias.
 
Recentemente, o escritor italiano Umberto Eco lançou o livro “Número Zero”. É um romance que faz uma análise do charlatanismo produzido por um grupo de redatores, que tem o objetivo de chantagear, de difamar e de prestar serviços duvidosos ao seu editor. É um manual do mau jornalismo e de como tudo é muito inconsistente quando a meta é vender a notícia como mercadoria.
 
Mas há outros livros provocativos, quanto à deficiência jornalística. “O Jornalismo Canalha” e “Showrnalismo – a notícia como espetáculo”, escritos por José Arbex Jr., são referências de como a imprensa anda mal das pernas. Arbex é um conceituado jornalista, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutorado em história, que teve como orientador Nicolau Sevcenko (1952-2014).
 
Seguindo o mesmo raciocínio do sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard (1929-2007), José Arbex Jr, assume uma posição crítica sobre a cobertura jornalística da invasão do Iraque pelos Estados Unidos da América e Grã Bretanha em março de 2003, dizendo que tudo não passou de um grande espetáculo, rarefeito no seu conteúdo, que apenas prestava seus serviços aos interesses do Pentágono.
 
Outra questão é a vulgaridade da linguagem midiática. Recentemente vi o conflito de opiniões entre o jornalista Ricardo Boechat e o pastor Silas Malafaia. Os dois se atacaram com palavras ofensivas. Um episódio negativo e sem nexo, principalmente pela história construída por Boechat, que disse que não daria bola para Malafaia e que ele deveria “procurar uma rola”. Foi rídiculo!!
 
São nestes momentos que queria ser da geração, da década de 1970, que ouvia com prazer os debates entre Noam Chomsky e Michel Foucault (1926-1984). Era um exercício dialético profundo, excepcional, com temas que passavam pela política, biologia, processos linguístivos e outros assuntos fundamentais para a civilização sem qualquer afetação intelectual. Era uma época demasiadamente humana e menos mecânica.nação em frangalhos. Logicamente há uma grande distância que separa os dois pensadores, do pastor e do jornalista.
 
Atualmente, para a infelicidade do conhecimento, muitas pessoas tem agido segundo os Códigos de Hamurabi, “dente por dente, olho por olho”. É só lermos ou ouvirmos as opiniões de Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Raquel Sheherazade e Olavo de Carvalho, para sentirmos o quanto essas vozes carregam consigo excessos delirantes na linguagem mediática, como se fossem os escolhidos para ordenar a nossa cultura.
 
Neste quadro tão estranho e amorfo, me lembro de Hannah Arendt (1906-1975) e de suas palavras: “As mentiras sempre foram consideradas instrumentos necessários e legítimos, não somente do ofício do político ou do demagogo, mas também do estadista”. Seguindo a citação da pensadora judia, a mentira também se torna instrumento de muitos profissionais da mídia, que se deleitam em um mundo de ruínas, apocalíptico, e convictamente fundamentado por uma nova concepção de direita. A quem eles querem enganar?
 
 

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