segunda-feira, 5 de junho de 2017

Chauvinismo petista



A revista Piauí, deste mês, edição 129, ganha no projeto gráfico. Mas, infelizmente, deixa a desejar no conteúdo textual e pelo erro grosseiro de repetir algumas páginas, sobre o mesmo assunto, exatamente no artigo "Vivi na pele o que aprendi nos livros", do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) que, sinceramente, se torna interessante apenas no aspecto biográfico. Somente isso!
Há muita maquiagem nas questões apresentadas por ele, que tem uma carga ideológica excessiva e parcial sobre os fatos ocorridos no país nas últimas décadas. Eu só me animei a continuar a ler a revista quando Haddad faz referência a Raymundo Faoro (1925-2003), o grande mentor intelectual de Luiz Inácio Lula da Silva, na sua primeira vitória como presidente da república; já os acadêmicos Paulo Delgado e Luiz Dulci, que se diziam conselheiros nas questões históricas e literárias, eram peças decorativas. Até hoje não sei o que os dois fizeram de concreto na vida pública.
Voltando na primeira eleição, vivíamos num mundo aparentemente "ingênuo". E para os 61,27% do eleitorado, que acreditavam na mensagem do ex-líder sindical, inspiradas nos nobres ideais do jurista, historiador e escritor Faoro, tendo Duda Mendonça como força empírica das teorias formuladas pelo professor, o país presenciava uma "graça" cívica.
Era um eleitor que pulsava, frenético, a favor de uma grande transformação social; tardiamente, a sociedade brasileira foi informada que tudo não passava de simulacros, de cópias fascistas mal feitas, que mantinham sua engrenagem em distorcidas concepções políticas (formadas pela ganância e mesquinharia), a favor de interesses menores, lançando o país em uma complexa crise, sem precedentes na sua história política. Mas, mesmo com as provas que mancham a sua biografia, Lula continua sua saga ao lado de uma "multidão" de seguidores.
Precisamos ter muita calma nesta fase antropocena. Ainda somos limitados sobre tudo. E isso nos ajuda a pensar sobre o grau de estupidez produzido pelo estamento burocrático, do seu patronato, desde dos tempos da colônia, e que vigoram no presente com outra roupagem (pós-moderna?).
Por ser um entusiasta da obra de Faoro e, principalmente, por tê-lo como referência como uma das mentes mais poderosas da intelectualidade brasileira, ignorada pelos inteligentinhos do MEC, e completamente desconhecido pela maioria do povo brasileiro, aproveitei as lembranças do ex-ministro da educação para refletir sobre o vagaroso caminhar da nossa república. Se o sábio pensador estivesse entre nós, com certeza daria fortes puxões de orelha no ex-líder sindical, tanto pela sua falta de visão de mundo, no sentido conceitual, e pelos erros por não ter estabelecido eficiência na gestão pública e ética na conduta política.
É bom lembrar que a primeira pessoa que Lula visitou no dia 27 de outubro de 2002, depois de conquistar as urnas, foi Raymundo Faoro. Houve naquele momento a grandeza simbólica do discípulo em agradecer ao mestre, pelos momentos gratificantes de conhecimento. Lula assume no dia 1º de janeiro de 2003, mas o velho amigo morre no dia 15 de maio do mesmo ano, deixando o seu presidente, originado das classes populares, refém das incongruências do ego.
Imagino que Faoro, nas suas conversas reservadas com Lula, tenha comentado sobre Rosa Luxemburgo (1871-1919), Lenin (1870-1924), Adam Smith (1723-1790) e outros pensadores, com o objetivo de aprimorar a mente do futuro "estadista". Pelo que se nota, o ex-presidente destratou sem qualquer gentileza histórica as bibliografias apresentadas pelo amigo professor, e construiu uma realidade estranha e desconexa com as demandas do século 21, e Fernando Haddad não cita no seu artigo esses fatos. Por quê? Seria isso o resultado de um insano chauvinismo petista?

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