sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Pós-pandemia: um futuro de humanos/máquinas

 

Francis Bacon. Figura com carne


O  início desta década de 20 está marcado pela complexidade da dissensão ontológica. Isto é bom ou ruim? Teríamos que fazer esta pergunta para Gilles Deleuze (1925-1995). Mas, infelizmente, como ele não se encontra entre nós, precisaremos ler os seus tratados filosóficos, um deles o livro Diferença e Repetição, para compreendermos conceitos quânticos que, bem utilizados, rompem barreiras e desmitificam valores apresentados como verdades absolutas.       

Nitidamente, em todos os sentidos, o século 21 será radical. Um cérebro humano, condicionado em um ambiente fechado por dogmas, ritos e liturgias ideológicas (comunismo e socialismo, cristianismo e judaísmo), que não se permitiu mergulhar mentalmente nas singularidades da evolução da sinapse, estará completamente cego ao que acontecerá em breve, pois a sua cultura binária o impedirá ter visão de mundo e lucidez sobre os acontecimentos.

Entretanto, caso este mesmo cérebro tenha se esbanjado intelectualmente nos universos criativos de Proust, Kafka, Arendt, Beckett, Plath, Nietzsche, Schopenhauer, Virginia Woolf,  Francis Bacon, Hume, Espinosa, Borges e tantos outros nomes voltados para a reflexão da nossa condição humana, perceberá como funcionam estas dinâmicas de transformações, mas, se persistir nos entraves maniqueístas (bem e mal, verdade e mentira), o corpo se definhará progressivamente mais rápido e, de fato, não entenderá nada do que está por vir, e terá poucas opções para estabelecer um contraponto argumentativo mais profundo.

Obviamente as diferenças podem gerar confusão. Com aproximadamente 8 bilhões de pessoas que vivem num planeta ecologicamente instável, o cenário não é nada fácil. Principalmente nos processos de linguagem e de relação coexistencial. Certa vez, o filósofo Bertrand Russel (1872-1970) disse que num mundo cada vez mais interconectado nós temos que aprender a tolerar uns aos outros. "Nós temos que aceitar o fato de que algumas pessoas dizem coisas que não gostamos. Nós só podemos viver juntos desta forma. Nós precisamos aprender a bondade da caridade e da tolerância."   

Mas, sejamos francos, na atualidade há espaços para sublimidades românticas, iniciadas no século 18, com grandes repercussões nos séculos 19 e 20? Um período de florescimento da poesia, da literatura, da música, das artes plásticas, do cinema, do teatro, da ciência e da tecnologia. Mesmo que haja uma minuciosa revisão histórica dos acontecimentos passados, estes três séculos foram intensos e abriram caminhos para outras vias existenciais.

Neste momento, o mundo passa pela sua quarta revolução industrial e pela sua segunda revolução cognitiva. Inovações nas modalidades da biotecnologia serão aplicadas, numa realidade completamente diferente da qual conhecíamos antes do Covid-19. Tudo indica que o enredo na superfície terrestre estará ligado a engenharia genética, nos moldes darwinistas, onde o design da biologia sintética criará uma nova raça de seres, que surgirão até 2050, conhecidos como amortais. Segundo projeções científicas, eles poderão viver para ''sempre", através da manipulação fisiológica.

Assustador? Parece um filme, semelhante a Matrix? Com personagens saídos  dos livros do japonês Haruki Murakami e do americano Wiliam Gibson? Creia, não é! Várias instituições de pesquisas financiam projetos que ultrapassam o espetáculo criado por roteiristas, diretores e atores de Hollywood, com ideias que vão além Frankenstein, obra ficcional da autora inglesa  Mary Shelley (1797–1851).

Por acaso, você já ouviu falar da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa? É uma agência de pesquisa militar dos Estados Unidos. Ela trabalha no desenvolvimento de cyborgs, assim como o Centro de Guerra Submarina da Marinha. Estas duas instituições governamentais produzem experimentos que passam por insetos e humanos, que arrepiam a alma.

No setor privado, há o empresário sul-africano Elon Musk, da empresa Tesla, que está a frente da segunda revolução cognitiva com o projeto “Transumanismo”. Segundo Musk, a tecnologia poderá melhorar a qualidade de vida humana através do “mind upload”, que reproduzirá a mente das pessoas e suas memórias no espaço virtual, com o objetivo de imortalizar a mente humana.

A coisa não para por aí. Em 2003, a União Européia liberou uma concessão de um 1 bilhão de euros para o Projeto Cérebro Humano, com o objetivo de recriar um cérebro humano em super computadores. São 130 institutos envolvidos nesta história. Os cientistas acreditam que poderão desenvolver novos tratamentos para a doença do cérebro, e que revolucionará o estudo computacional.

Na medicina, existe pesquisas na área da nanotecnologia com o objetivo de curar e de prevenir doenças, como o câncer, o Alzheimer e o Mal de Parkinson. Bem... Ao que parece, a pós pandemia, se aproximará mais do universo da ficção científica profética do livro Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley (1894-1963), do que da obra 1984, criada por George Orwell (1903-1950), que acreditava num mundo mentalmente controlado e vigiado pelo grande irmão.

No universo de Huxley, as pessoas viverão com novos valores sociais, com tecnologias avançadas e um profundo sonambulismo de felicidade causado por drogas, produzidas e mercadologicamente oferecidas pelas grandes corporações farmacêuticas, num governo distópico. Será que nos definiremos  como uma nova geração de humanos/máquinas? Acima de deuses e de crenças?


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  Francis Bacon.  Figura com carne O  início desta década de 20 está marcado pela complexidade da dissensão ontológica. Isto é bom ou ruim?...