Definitivamente estamos na fase do
jornalismo declaratório. Ou seja, a fonte é bastante duvidosa, sem escrúpulos e
sem qualquer vínculo com as dinâmicas da democracia. O foco se concentra na
destruição alheia e que se danem todos. Este comportamento insano, alimentado
pela grande mídia, criou força a partir da década de 90 e cresceu
assustadoramente no século 21.
No geral as matérias são superficiais e
não possuem fundamentos éticos que comprovem a veracidade das denúncias
apresentadas. Isto destrói drasticamente a reputação de pessoas inocentes, que
se tornam réus de um simulacro “circense”. Tudo se transforma em um espetáculo
mediático.
A falta de vigor investigativo e,
principalmente, a eliminação de técnicas jornalísticas bem fundamentadas, tem
sido assunto de alguns profissionais sérios. É o caso do escritor, jornalista,
repórter de televisão, Caco Barcellos. Ele levanta questões importantes sobre
isto, ao refletir a importância de apurar uma determinada denúncia com
profundidade ao ouvir fontes legítimas, que não sejam simplesmente
declaratórias.
Recentemente, o escritor italiano
Umberto Eco lançou o livro “Número Zero”. É um romance que faz uma análise do charlatanismo
produzido por um grupo de redatores, que tem o objetivo de chantagear, de
difamar e de prestar serviços duvidosos ao seu editor. É um manual do mau
jornalismo e de como tudo é muito inconsistente quando a meta é vender a
notícia como mercadoria.
Mas há outros livros provocativos,
quanto à deficiência jornalística. “O Jornalismo Canalha” e “Showrnalismo – a
notícia como espetáculo”, escritos por José Arbex Jr., são referências de como
a imprensa anda mal das pernas. Arbex é um conceituado jornalista, professor da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutorado em história, que teve
como orientador Nicolau Sevcenko (1952-2014).
Seguindo o mesmo raciocínio do sociólogo
e filósofo francês Jean Baudrillard (1929-2007), José Arbex Jr, assume uma
posição crítica sobre a cobertura jornalística da invasão do Iraque pelos
Estados Unidos da América e Grã Bretanha em março de 2003, dizendo que tudo não
passou de um grande espetáculo, rarefeito no seu conteúdo, que apenas prestava
seus serviços aos interesses do Pentágono.
Outra questão é a vulgaridade da
linguagem midiática. Recentemente vi o conflito de opiniões entre o jornalista Ricardo Boechat e
o pastor Silas Malafaia. Os dois se atacaram com palavras ofensivas. Um episódio
negativo e sem nexo, principalmente pela história construída por Boechat, que
disse que não daria bola para Malafaia e que ele deveria “procurar uma rola”.
Foi rídiculo!!
São nestes momentos que queria ser da geração, da década de 1970, que ouvia
com prazer os debates entre Noam Chomsky e Michel Foucault (1926-1984). Era um
exercício dialético profundo, excepcional, com temas que passavam pela
política, biologia, processos linguístivos e outros assuntos fundamentais para
a civilização sem qualquer afetação intelectual. Era uma época demasiadamente
humana e menos mecânica.nação em frangalhos.
Logicamente há uma grande distância que separa os dois pensadores, do pastor e
do jornalista.
Atualmente, para a infelicidade do
conhecimento, muitas pessoas tem agido segundo os Códigos de Hamurabi, “dente
por dente, olho por olho”. É só lermos ou ouvirmos as opiniões de Reinaldo
Azevedo, Diogo Mainardi, Raquel Sheherazade e Olavo de Carvalho, para sentirmos
o quanto essas vozes carregam consigo excessos delirantes na linguagem
mediática, como se fossem os escolhidos para ordenar a nossa cultura.
Neste quadro tão estranho e amorfo, me
lembro de Hannah Arendt (1906-1975) e de suas palavras: “As mentiras sempre
foram consideradas instrumentos necessários e legítimos, não somente do ofício
do político ou do demagogo, mas também do estadista”. Seguindo a citação da
pensadora judia, a mentira também se torna instrumento de muitos profissionais
da mídia, que se deleitam em um mundo de ruínas, apocalíptico, e convictamente
fundamentado por uma nova concepção de direita. A quem eles querem enganar?
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