O início desta década de 20 está marcado pela
complexidade da dissensão ontológica. Isto é bom ou
ruim? Teríamos que fazer esta pergunta para Gilles Deleuze (1925-1995). Mas,
infelizmente, como ele não se encontra entre nós, precisaremos ler os seus
tratados filosóficos, um deles o livro Diferença e Repetição, para
compreendermos conceitos quânticos que, bem utilizados, rompem barreiras e desmitificam
valores apresentados como verdades absolutas.
Nitidamente, em todos os
sentidos, o século 21 será radical. Um cérebro humano, condicionado em um
ambiente fechado por dogmas, ritos e liturgias ideológicas (comunismo e
socialismo, cristianismo e judaísmo), que não se permitiu mergulhar mentalmente
nas singularidades da evolução da sinapse, estará completamente cego ao que
acontecerá em breve, pois a sua cultura binária o impedirá ter visão de mundo e
lucidez sobre os acontecimentos.
Entretanto, caso este
mesmo cérebro tenha se esbanjado intelectualmente nos universos criativos de
Proust, Kafka, Arendt, Beckett, Plath, Nietzsche, Schopenhauer,
Virginia Woolf, Francis Bacon, Hume,
Espinosa, Borges e tantos outros nomes voltados para a reflexão da nossa
condição humana, perceberá como funcionam estas dinâmicas de transformações,
mas, se persistir nos entraves maniqueístas (bem e mal, verdade e mentira), o
corpo se definhará progressivamente mais rápido e, de fato, não entenderá nada
do que está por vir, e terá poucas opções para estabelecer um contraponto
argumentativo mais profundo.
Obviamente as diferenças podem
gerar confusão. Com aproximadamente 8 bilhões de pessoas que vivem num planeta
ecologicamente instável, o cenário não é nada fácil. Principalmente nos
processos de linguagem e de relação coexistencial. Certa vez, o filósofo
Bertrand Russel (1872-1970) disse que num mundo cada vez mais interconectado nós
temos que aprender a tolerar uns aos outros. "Nós temos que aceitar o fato
de que algumas pessoas dizem coisas que não gostamos. Nós só podemos viver
juntos desta forma. Nós precisamos aprender a bondade da caridade e da
tolerância."
Mas, sejamos francos, na
atualidade há espaços para sublimidades românticas, iniciadas no século 18, com
grandes repercussões nos séculos 19 e 20? Um período de florescimento da
poesia, da literatura, da música, das artes plásticas, do cinema, do teatro, da
ciência e da tecnologia. Mesmo que haja uma minuciosa revisão histórica dos
acontecimentos passados, estes três séculos foram intensos e abriram caminhos
para outras vias existenciais.
Neste momento, o mundo
passa pela sua quarta revolução industrial e pela sua segunda revolução
cognitiva. Inovações nas modalidades da biotecnologia serão aplicadas, numa realidade
completamente diferente da qual conhecíamos antes do Covid-19. Tudo indica que
o enredo na superfície terrestre estará ligado a engenharia genética, nos
moldes darwinistas, onde o design da biologia sintética criará uma nova raça de
seres, que surgirão até 2050, conhecidos como amortais. Segundo projeções
científicas, eles poderão viver para ''sempre", através da manipulação
fisiológica.
Assustador? Parece um filme,
semelhante a Matrix? Com personagens saídos dos livros do japonês Haruki Murakami e do
americano Wiliam Gibson? Creia, não é! Várias instituições de pesquisas financiam
projetos que ultrapassam o espetáculo criado por roteiristas, diretores e atores de Hollywood, com ideias que
vão além Frankenstein, obra ficcional da autora inglesa Mary
Shelley (1797–1851).
Por acaso, você já ouviu falar da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de
Defesa? É uma agência de pesquisa militar dos Estados Unidos. Ela trabalha no
desenvolvimento de cyborgs, assim como o Centro de Guerra Submarina da Marinha.
Estas duas instituições governamentais produzem experimentos que passam por insetos
e humanos, que arrepiam a alma.
No setor privado, há o empresário sul-africano Elon Musk, da empresa
Tesla, que está a frente da segunda revolução cognitiva com o projeto “Transumanismo”.
Segundo Musk, a tecnologia poderá melhorar a qualidade de vida humana através
do “mind upload”, que reproduzirá a mente das
pessoas e suas memórias no espaço virtual, com o objetivo de imortalizar a
mente humana.
A coisa não para por aí. Em 2003, a União Européia liberou uma
concessão de um 1 bilhão de euros para o Projeto Cérebro Humano, com o objetivo
de recriar um cérebro humano em super computadores. São 130 institutos
envolvidos nesta história. Os cientistas acreditam que poderão desenvolver
novos tratamentos para a doença do cérebro, e que revolucionará o estudo
computacional.
Na medicina, existe
pesquisas na área da nanotecnologia com o objetivo de curar e de prevenir
doenças, como o câncer, o Alzheimer e o Mal de Parkinson. Bem... Ao que parece, a pós pandemia, se aproximará
mais do universo da ficção científica profética do livro Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley (1894-1963), do que da obra 1984, criada por George Orwell (1903-1950),
que acreditava num mundo mentalmente controlado e vigiado pelo grande irmão.
No universo de Huxley, as
pessoas viverão com novos valores sociais, com tecnologias avançadas e um
profundo sonambulismo de felicidade causado por drogas, produzidas e mercadologicamente
oferecidas pelas grandes corporações farmacêuticas, num governo distópico. Será que nos definiremos como uma nova geração de humanos/máquinas? Acima
de deuses e de crenças?