quinta-feira, 4 de maio de 2017

Selfs e imposturas políticas





O Homo Sapiens, derivado da expressão “Homem Sábio”, perde sua importância como uma das espécies mais criativas da natureza, provando sua genética inversa na escala da evolução, e se lança nas distorções da irracionalidade e da barganha. O trambique, o roubo, a ganância, o ódio, a inveja, a destruição ambiental e a perda das funções simbólicas, são doenças que inibem os valores estéticos dos movimentos humanistas.

Mas como chegamos a isso? Uma pergunta complexa que necessita de uma resposta simples. A ausência de cognição dos poderes constituídos com os interesses da sociedade é extremamente catastrófica. Nota-se uma profunda letargia dos representantes do povo e da mídia convencional, para melhorar as dinâmicas do sistema que pulse a favor de um mundo mais vigorante e, sobretudo, antenado com as produções científicas voltadas ao bem estar social. De quem é a culpa?

O cineasta italiano Federico Fellini (1920-1993) dizia que a política se tornou uma invenção constante da realidade, de mutações canhestras e deformadas, que continuará a dar suas bofetadas e a insultar o povo que, cego e frágil, ainda beijaria os pés de falsos mitos. E isso não acontece no Brasil? Mais que um declínio moral e ético, assistimos a completa destruição do interacionismo simbólico positivo que, forçado a dar lugar para a velhacaria da barbárie das imagens negativas, anula as possibilidades de ação do estado de direito.

No atual cenário, o interacionismo simbólico foi eliminado e em seu lugar se configura aberrações criadas por um macho demoníaco, que se conecta com as perversões de fascistas e de nazistas; historicamente, e isso não podemos perder de vista, a mecânica do horror não terminou com a morte de Adolf Hitler (1889-1945) e de Benito Mussolini (1883-1945). Há outros selfs em cena. Necessitamos com urgência de ter um raciocínio epistemológico mais biológico, e menos mecânico.

Mas onde estão as instituições para questionar as entranhas do poder? Não estou falando em prisões, asilos, escolas, hospitais e escritórios do governo, mas me refiro à linguagem e as práticas culturais, que tem seus representantes nas camadas populares. Exemplos práticos é que não faltam. Um deles foi o reverendo Martin Luther King (1929-1969). Em um momento tenso da história dos negros americanos, ele sabia fazer bom uso dos símbolos ao criar inflexões, que contextualizavam com estruturas micro sociais avançadas, que marcaram uma época.

Quando o filósofo pragmatista G.H. Mead (1883-1931) influenciou o desenvolvimento do interacionismo simbólico, através da Universidade de Chicago, no início do século XX, procurava abordar processos de linguagem que confluiriam a favor dos que estavam à margem da Lei. Do campo da teoria a sua aplicabilidade empírica, os resultados foram excepcionais na área do direito da mulher e das crianças excluídas do jogo “capitalista”.


As imposturas políticas vistas nos últimos anos no Brasil, dada à dimensão de sua catástrofe, tiraram de cena projetos relevantes que poderiam ser uma sinergia, uma simbiose na progressão social, e nos campos do conhecimento científico e cultural. Na sombra de antigos “líderes”, que surgem no balcão de estranhas negociatas partidárias para 2018, os marqueteiros continuam a bolar planos mirabolantes, sem que haja qualquer vínculo com as demandas reais e compromissadas com algo relevante; criam, engenhosamente, apenas vozes sem significados, sem mentes dispostas a fazer as verdadeiras mudanças. É um mundo de selfs sem conteúdo de causa. Tudo não passa de ilusões de imagens. Na sua maioria desfocada dos enredos do século XXI.     

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