O artigo escrito por Maurício Angelo, no site Crimedeia: “Sebastião Salgado, o patrocínio da Vale e a ‘salvação’ do Rio Doce”, segue uma rotina amorfa e sonsa. Ele me lembra alguém que tem muitas dúvidas sobre si mesmo e do mundo. Ainda bem! Se fosse o contrário, o universo observável seria extremamente simétrico e chato. Mas como o século 21 representa o auge do antropoceno, nunca é tarde para diálogos aparentemente insólitos.
Mas a impressão que se tem é que alguém, sejam os
financiadores do site crimedeia ou outros balangandans esquisitos, esteja insatisfeito
com os movimentos criados por Sebastião Salgado e, principalmente, da visibilidade que o Instituto Terra, em
Aimorés, Minas Gerais, ganhou aos olhos do mundo. Exageros? Não!!! Um fato.
Percebi que a maioria dos pontos apresentados pelo burocrático
site, que se autointitula “Ministério da Verdade”, uma ideia tirada dos
elementos literários de George Orwell (1903-1950), se diz apartidário e sem orientações
"ideológicas". Na minha reflexão, esse é um terreno lamacento,
ofuscado pela ausência de uma legitimidade conceitual comprometida com a
informação.
No seu romance “O Homem sem Qualidades”, Roberto Musil lança
essa fagulha: “Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba
usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade.
A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está
sempre em desvantagem.”
Com um viés retórico, disfarçado como inovador de ideias, e,
sobretudo, performático em conjecturas contra modelos predatórios, eu não
encontrei nenhum artigo, matéria ou ensaio, que aborde temas ambientais
relevantes para analises científicas, como por exemplo, a destruição dos rios e
dos mares causado pela agricultura animal. Por que será? Ao longo dos últimos
anos inúmeros coquetéis de toxinas são lançados na água doce. Que por sua vez tem
devastado o mar, que perdeu 50% da sua biodiversidade marinha nos últimos 30
anos. Até agora não vi nenhum ambientalista levantar esta questão.
Aí eu pergunto, só agora o genial escriba Maurício achou o
momento adequado para expor seus teores conspiratórios sobre Sebastião Salgado
+ Banco Mundial + Governo Federal e outras quinquilharias exóticas relacionada
com a recuperação do Rio Doce? Que jornalismos é este?
Crimedeia na verdade é partidário. Partidário da falência de uma
visão de mundo... Que seja mais profunda. O site se ampara em notícias de
jornais e não possui qualquer bibliografia mais específica sobre
o problema que apresenta. Parece encenar recortes
epistemológicos para desconstruir o projeto apresentado pelo Instituto
Terra; até agora, o único a fazer algo realmente eficaz no Brasil, sem que se
perca em subterfúgios de um relativismo cultural hipócrita. Acho que o Maurício
deveria buscar fontes interessantes, tais como Enrique Leff, Silvio Funtowicz,
Bruna de Marchi, Isabel Carvalho, Jorge Osorio, Rubén Pesci, Daniel Luzzi,
Javier Riojas, Joaquim Esteva, Javier Reyes e Maritza Gómez, para melhor
avaliar sobre o que fala.
A matéria não apresenta paradigmas satisfatórios e
desenvolve uma "lógica", com tons de manipulação,
intrinsecamente conservadora ao enveredar por caminhos enunciados
como reais. Extremamente cartesiano, o texto tenta criar fôlego, brandindo
uma certa arrogância nas informações obtidas pela "antenada legião",
que alfineta o curto tempo que o Instituto Terra teve para apresentar uma
resposta rápida para o problema. Ora!!! O instituto é um espaço
científico. Essa é a sua função. O jornalista por acaso não sabe como funciona
a sistematização para respostas rápidas, no que se refere aos procedimentos
contra os impactos negativos?
Em determinado momento o texto tentar conceituar aspectos éticos,
relacionais e profissionais de Sebastião com a empresa Vale, como se o
fotógrafo estivesse estabelecendo metafísicas canibais com o poder
estatal. Cita uma entrevista do fotógrafo em uma determinada mídia européia,
onde na ocasião vários ambientalistas protestaram contra a exposição de Salgado
por ter o seu trabalho patrocinado pela Vale.
Gostaria de saber os nomes desses ambientalistas europeus.
Sabe-se que grande parte deles é extremamente frouxa quanto a questão dos
processos corrosivos da agricultura animal. O site, literalmente empobrecido, com base em
relatos publicados apenas por jornais, não cita quais serão
os impactos positivos que estão sendo orientados pelo Instituto Terra,
quanto à preservação das nascentes do Rio Doce.
Sebastião Salgado é economista. Isso não é novidade para
ninguém. Quando ele fez doutorado em Paris, com certeza criou vínculos com uma geração que atualmente tem colocado o dedo
na ferida no raciocínio dos neo liberais. Creio que pelo seu trabalho e
pela sua total lucidez quanto aos problemas do Brasil, ele não teria qualquer
motivo para se lançar como uma peça mercadológica. Afinal, Sebastião Salgado
tem visão de mundo.
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